Os três patetas. Selvagens.
por Renato HermsdorffTroy (Nicolas Cage), Diesel (Christopher Matthew Cook) e Mad Dog (Willem Dafoe) são ex-presidiários que aceitam a proposta de embarcar em um último crime. Se a “saideira” for bem-sucedida, eles não precisarão voltar mais para a condição de foras-da-lei. Ok, você já ouviu essa história.
Troy, Diesel e Mad Dog praticam as maiores atrocidades. Atos de extrema violência, que, não raro, são ilustrados por uma trilha sonora “inusitada”, algo por ora até romântico, que busca deslocar o significado dos signos. Sim, você já viu esse filme.
Dirigido pelo veterano Paul Schrader (de Gigolô Americano; roteirista de filmes renomados como Touro Indomável e Táxi Driver), Cães Selvagens é fruto de uma montagem dinâmica (sobretudo no início), que casa bem com o frenesi dos personagens, em geral drogados. Há uma mistura de linguagens, com cenas em preto e branco intercaladas, o abuso (no bom sentido) de uma iluminação monocromática em determinados momentos, slow motion "para dar e vender".
A essa altura, você já entendeu. A representação gráfica da violência em Dog Eat Dog (no original) não é exatamente... original – a referência mais óbvia é a filmografia (toda ela) de Quentin Tarantino –, mas é divertida pacas. O “diferencial” do filme são exatamente... Troy, Diesel e Mad Dog.
São personagens bem construídos. Troy é cabeça do trio, o mais sensato, amante do cinema; Diesel é o cara frio, de pavio curto; ao passo que Mad Dog é o sentimental, incontrolável. O resultado da combinação desses “tipos”, aqui, não é exatamente ameaçador, como seria de se supor - não, pelo menos, para a audiência. A "viagem" do roteiro de Matthew Wilder (baseado no livro de Edward Bunker – que atuou como o Mr. Blue de Cães de Aluguel!) é rir do quão ridículos esses personagens podem ser.
Não que eles não se levem a sério; não que se trate de uma comédia escrachada. São as trapalhadas involuntárias cometidas (a todo momento) pelo trio de protagonistas que garantem a diversão do longa-metragem.
Cage, motivo de chacota por seus papéis recentes, relembra ao público que sim, sabe atuar. Basta se associar a um bom projeto (em última análise, ele é responsável pelo que escolhe). E brilha em um momento à la Humphrey Bogart. Mas quem rouba a cena é mesmo Willem Dafoe. Instável, Mad Dog é o “cão louco” que o nome promete, e que o eterno intérprete do Duende Verde cumpre.
Apesar do quê de déjà-vu de Cães Selvagens, você vai se encantar, estranhamente, com os três patetas acidentais que são Troy, Diesel e Mad Dog.