Ensaio fotográfico
por Bruno CarmeloO cinema comercial está repleto de romances idealizados, sobre mulheres belíssimas que encontram homens belíssimos, apaixonando-se à primeira vista e vivendo o amor perfeito. Os fãs de Nicholas Sparks, aliás, conhecem bem essas histórias. Estes filmes fazem a alegria de parte dos espectadores, mas são rechaçados por muitos críticos por não oferecerem nada além do escapismo, um mundo cor-de-rosa como alternativa aos relacionamentos realistas.
O cinema de temática gay, embora menos numeroso que o de temática heterossexual, passa pelo mesmo problema: a tentação de oferecer ao público um suposto mundo ideal, no qual garotos lindos se apaixonam por outros garotos lindos, de preferência em cenários lindos. Talvez essas produções sejam mais perdoáveis por se destinarem a um público que raramente se vê representado nas telas, e que também precisa de identificação com ícones e tramas fictícias. Mas é uma pena que produtores e diretores pensem que o público gay espere por algo como Jess & James.
O filme argentino é o equivalente cinematográfico de uma revista de moda. Ele tem uma bela embalagem, com jovens adultos exibindo o corpo em poses sensuais, diante de uma paisagem paradisíaca. No entanto, depois de um tempo, percebe-se que não há muito conteúdo por trás deste desfile de modelos. Tanto Jess (Martin Karich) quanto James (Nicolás Romeo) são figuras pouco interessantes, que quase não falam, não expressam desejos, ou uma vontade específica. Eles se encontram, transam e partem numa viagem juntos. A viagem não traz nenhuma transformação: basicamente, a dupla para, olha para o horizonte, se beija ao pôr do sol. Eles encontram um terceiro jovem, igualmente belo, que beija os dois, e depois parte. O caminho está repleto de facilidades, como uma senhora idosa que aparece, de lugar algum, oferecendo casa, comida e mais um cenário para a dupla se beijar e fazer amor.
O diretor Santiago Giralt filma esta trama com grande interesse pelos corpos dos atores, aproximando os enquadramentos do volume das sungas, fazendo com que eles troquem de roupa (sempre justa, meio rasgada nas pernas) várias vezes durante esta pequena viagem, justamente como num desfile. O roteiro tenta compensar a superficialidade dos personagens com justificativas psicológicas rasteiras (ambos foram abandonados pelos pais ou irmãos) e com uma incômoda narração de Jess, na qual ele finalmente demonstra alguma forma de raciocínio. Fica a impressão de que o diretor percebeu, ao final das filmagens, que a única maneira de tentar conferir interesse à sua dupla central seria acrescentar alguns pensamentos em off.
Jess & James não é um filme mal executado, longe disso. Ele decepciona apenas por apresentar um mundo sem asperezas nem complexidade. Politicamente falando, é uma obra conformista. Parece existir um público sedento por este discurso voyeurista, julgando pela boa resposta do público no Rio Festival Gay de Cinema. Mas o cinema é muito mais interessante quando fornece algo inesperado, reflexivo e perturbador ao invés de se render aos charmes da imagem publicitária.
Filme visto no Rio Festival Gay de Cinema 2015, em julho de 2015.