Apesar do nome forte, A Loira Atômica (clara referência ao contexto do filme, a tensão nuclear entre leste e oeste), o filme em si não consegue fazer jus à essa força. Existe uma Loira, mas a ação está longe de ser Atômica.
A comparação com De Volta ao Jogo é tão inevitável quanto injusta. O filme de Jhon Wick é um longa de ação e máfia, já Atômica é claramente um filme de espionagem com artifícios noir, emulando referências à Sin City, Electra e outras HQs, afinal, também é inspirada em uma.
Os aspectos noir são evidentes: O estilo de enquadramento, o cigarro sempre em cena, a neblina, o interrogatório e os tons escuros. Porém, a escolha de isso mesclar com referências punk/anarquistas é bem questionável. Ousada, mas executada de forma artificial. O conceito de interrogatório, por exemplo, é usado para nos deixar em dúvida sobre a veracidade da história, afinal só estamos ouvindo uma versão dos fatos. Contudo, falha em não fornecer informações suficientes para que o espectador formule suas próprias conclusões. É um recurso vazio. O filme, definitivamente, tenta se fazer de inteligente, mas não acredita nisso e tenta "mastigar" os detalhes pra platéia.
A fotografia é boa, mas nada muito impressionante, e muitas vezes se repete, gerando alguns déjà vu sem propósito. A trilha sonora é usada como recurso narrativo e para apelo empático, mas novamente falha ao ser incoerente com o propósito do filme.
É um recurso pobre que está na moda ultimamente: Tocar músicas engraçadinhas durante cenas de ação, pra causar um desconforto cômico ou simplesmente pra prender atenção em cenas genéricas de luta. Esquadrão Suícida, Em Ritmo de Fuga, Guardiões da Galáxia, entre outros filmes já fizeram isso antes. Nada de original. Pode funcionar com o público adolescente, mas um filme com um roteiro que tenta ser tão persuasivo não devia apelar pra algo baixo assim.
Por sorte temos Charlize segurando o longa no carão, mas é só. Seu personagem é muito ruim, muita pose pra pouco conteúdo. Não demonstra a inteligência que sua arrogância promete, sendo salva sempre pelo "poder do protagonismo" em filmes de ação. Ou seja, o vilão sempre deixa a arma cair na hora H, o resgate sempre chega na hora certa, etc.
Algumas cenas de nudez são risíveis, como o relacionamento vazio entre a personagem principal e a espiã francesa, Lassale. Está lá apenas por fan service e pra reforçar a pose de "filme descolado".
Outro recurso pobre é tentar contextualizar historicamente cada ato através de falas em off de telejornais. É usado em demasia e sem nenhum acréscimo para as reviravoltas da trama.
Já no ante penúltimo ato parece que tudo seria compensado com ótimas sequências de ação. Mas o filme perde o timing e deixa passar a oportunidade de acabar na hora certa. Ressaltando sua prepotência de achar que seu roteiro é inteligente o filme se alonga pra explicar alguns pontos (que já eram óbvios), e para matar o melhor personagem da história, Percival. Então, como por milagre, surge outra grande chance pra acabar o filme por cima, mas novamente o diretor perde a vez.
Optando por acabar com uma reviravolta nenhum pouco empolgante ou enigmática e apelando pra uma repreensível e patética mensagem de triunfo do americanismo, a última pá de cal é descarregada nesse filme que poderia render muito mais se apostasse no público certo.