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    Atômica
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Atômica

    Sob pressão

    por Lucas Salgado

    Após uma longa carreira como dublê, em que trabalhou em filmes como Blade, o Caçador de VampirosMatrix Revolutions e O Ultimato BourneDavid Leitch fez sua estreia como diretor em 2014, em uma produção que tinha cara de "filme lançado direto em DVD", mas que se revelou um dos destaques daquele ano: De Volta ao Jogo. Codirigido por Chad Stahelski, o longa fez tanto barulho que os dois cineastas ganharam logo novas oportunidades em Hollywood.

    Chad engatou logo na continuação John Wick - Um Novo Dia para Matar e também está envolvido no novo Highlander. Já David preferiu arriscar mais e foi comandar Atômica. O resultado foi tão positivo que acabou convocado para Deadpool 2. Esta introdução é importante pois é muito difícil separar Atômica do primeiro John Wick. As duas produções nasceram sem muito barulho e aos poucos foram se revelando obras realmente especiais, principalmente para os fãs do gênero de ação.

    Passado em Berlim, em novembro de 1989, à dias da queda do muro, o longa acompanha uma agente do MI6, Lorraine Broughton (Charlize Theron), que visita a dividida cidade alemã na tentativa de desvendar a morte de um colega seu e também resgatar uma importante lista, com o nome de todos os agentes infiltrados na região. Ao chegar na cidade, ela recebe o apoio do também infiltrado David Percival (James McAvoy), mas a vida de espiã a faz não confiar em ninguém. O elenco conta ainda com as boas presenças de Sofia BoutellaToby Jones e John Goodman.

    A trama é relativamente simples e o joguinho de gato e rato, com várias reviravoltas, não é completamente inovador. A experiência cinematográfica, esta sim, é fabulosa, graças a uma sucessão de sequências empolgantes de ação e a uma atuação forte e inspirada de Theron. É curioso notar que após Mad Max: Estrada da Fúria e Atômica, a atriz vencedora do Oscar se tornou um dos principais ícones do gênero na atualidade. Charlize entrega uma performance dura e ameaçadora, demonstrando muita desenvoltura nas cenas de luta. Ela se entrega completamente à personagem e ao projeto, não fugindo das cenas em que tem seu corpo exposto, seja em momento quentes, seja em sequências que simplesmente tenta aliviar seus ferimentos.

    Chama a atenção no roteiro - e em cena - o fato de Lorraine ser muito diferente de John Wick. O personagem de Keanu Reeves segue a ideia do bicho papão, é praticamente imortal. Aqui, temos uma mulher fortíssima, mas que está apanhando a todo momento. Determinada e resistente, ela segue sempre em frente, mas isso não quer dizer que não vai levar umas porradas. Neste sentido, o filme tenta ser até realista - é claro, dentro do possível em uma obra do tipo.

    Baseado na HQ The Coldest City, de Antony JohnstonAtomic Blonde (no original) tem algumas escorregadas no roteiro, por vezes confuso, mas é salvo pela montagem de Elísabet Ronaldsdóttir e pela fotografia de Jonathan Sela. A dupla também trabalhou com David em De Volta ao Jogo. Na fotografia, é impressionante como o filme consegue criar um visual noir utilizando-se de cores fortes, em especial o azul e o vermelho, que servem de metáforas claras no cenário da Guerra Fria. Além da tonalidade, é impossível não destacar o impacto visual das cenas de ação, muitas delas em plano sequência. 

    A trilha instrumental de Tyler Bates (Guardiões da Galáxia) também é boa, mas o que chama mesmo a atenção é a seleção musical que conta com New Order, David Bowie, Public Enemy, George Michael, The Clash, Queen e muito mais.

    E não se trata de falar apenas que estamos diante de um filme com boa trilha sonora. Estamos diante de um longa em que a trilha sonora é importante de forma narrativa e na construção da experiência em assistir à produção. Cenas ao som de "Father Figure", "London Calling", "99 Luftballons" e "Under Pressure" são importantes no desenvolvimento do filme. Só ficou faltando "Atomic", da cantora Blondie. Seria uma opção bem óbvia, mas faria jus à personagem, que tem um visual muito parecido com o da artista.

    Com Atômica Mulher-Maravilha, 2017 se revela um ano muito importante para a representatividade das mulheres no cinema de ação. Resta saber se Charlize vai querer investir em continuações, pois sua "loira atômica" tem potencial para ser uma versão que une o estilo de James Bond e a brutalidade de Jason Bourne.

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