Xavier Dolan continua sabendo como inserir uma música em uma cena, e como aproveitar a trilha-sonora a favor de um filme, de modo que ela acrescente e consiga fazer cenas belíssimas ao mesmo tempo. Mas, em diversos momentos do filme eu me peguei divagando sobre como ele ainda não conseguiu abandonar os maneirismos que fizeram sua fama, e lhe trouxeram haters na mesma medida. Há cenas e sequências bem desnecessárias mesmo, como aquela em que Louis olha uma série de cartões postais enviados por ele que sua irmã guardava: o diretor acelera a cena, sem mais nem menos, para dar um efeito de urgência que é completamente desnecessário, e, também sem mais nem menos, termina com o recurso. Escolhas como essa resultando numa montagem um tanto quanto bagunçada, em um filme que é, essencial e claramente, redescoberto na montagem.
No mais, os atores não estão em estado de graça, e mesmo os destaques, como Ulliel e Cotillard, estão apenas corretos em seus papeis. Seydoux, por exemplo, eu achei um belo de um miscast: ela jamais me convenceu fazendo uma personagem bem mais nova que ela. Apesar dessas coisas todas, Dolan é muito bem sucedido em sua própria intenção de afastar o filme do estigma de teatro filmado ao concentrar quase todos os seus esforços como diretor em focar os personagens, mas focar muito mesmo, de modo que quase toda a ação do filme seja passada por meio de planos fechadíssimos no rosto dos atores. Isso, além do óbvio, expõe os personagens (os atores têm, além de tudo, pouquíssima maquiagem) e suas idiossincrasias, fazendo um dança orquestrada com o roteiro, e aquelas personalidades todas, tão contraditórias.
Entretanto, o roteiro é fraco demais. E se esse filme é fiel à peça de Jean-Luc Lagarce, o texto, sinceramente, é muito ruim! Os personagens são rasos e seus problemas e diferenças são porcamente aproveitados. É impossível se sentir próximo de qualquer um deles, pelo bem e pelo mal, e tem alguns dos personagens mais irritantes do ano, encabeçado pelo Antoine, do Vincent Cassel, que é absolutamente insuportável. E não de um jeito bom. Os personagens, mesmo em seus diálogos sozinhos com o protagonista - todos eles têm -, não dizem muito além de divagações inuteis sobre a vida e sobre o quanto a presença de Louis lhes afeta. É inacreditável que ninguém reaja de maneira realmente incisiva à figura sempre intragável de Antoine. E o Dolan até se esforça em "É Apenas o Fim do Mundo", com uma bela fotografia, as escolhas de enquadramento, mise en scene e tudo o mais, mas seria muito difícil fazer algo com um material tão fraco em mãos. Por mais que seja um material pelo qual você é apaixonado.