Essencialmente imperfeito
por Lucas SalgadoWhite Boy Rick é um filme sobre imperfeições, com personagens imperfeitos e um cenário muito longe da perfeição. A trama é interessante e os atores são talentosos, mas há um permanente sentimento de que está faltando algo. No final das contas, a obra em si é imperfeita.
Richard Wershe Jr. (Richie Merritt) é um jovem de 14 anos que mora com o pai (Matthew McConaughey) e a irmã (Bel Powley). O pai é o tradicional trambiqueiro, que promete à família buscar um caminho de vida honesto, mas que, enquanto isso, vende armas modificadas para traficantes locais. A irmã namora um criminoso da área e é viciada em drogas, entrando constantemente em conflito com o pai.
Para ajudar a família, Richard acaba entrando nos negócios do pai e acaba próximo de um grupo de criminosos. É quando é descoberto pela polícia e pelo FBI, e acaba transformado em um informante.
Apesar de momentos de humor involuntário, muito por conta da determinação e brutalidade dos personagens, o longa é um drama pesado, sobre juventudes perdidas e sobre um cenário de pobreza e exploração que parece sem saída.
Jennifer Jason Leigh, Brian Tyree Henry e Bruce Dern completam o elenco da produção. O trio entrega atuações competentes, cada um à sua maneira. Dern vive o pai do personagem de Matthew McConaughey e volta e meia entra em conflito com o filho, apenas reforçando a instabilidade daquele núcleo familiar.
Merritt é competente, mas talvez ainda seja verde demais para conduzir um filme deste tamanho. McConaughey, por sua vez, conta com ótimas cenas, sempre no estilo tradicional, mesclando descontrole e ignorância.
No final das contas, estamos diante de uma obra competente, mas tropeça de forma consistente. As grandes atuações apontam para um filme melhor do que ele realmente é. Na verdade, a história não é desenvolvida o bastante.
A direção de Yann Demange, realizador francês sem grandes trabalhos, é desnivelada e com problemas séries de ritmo. O cineasta não conseguiu empregar uma visão clara para sua história. Ele tinha uma boa premissa, um ótimo elenco, mas preferiu ir no piloto automático ao invés de procurar uma narrativa mais eficiente.
Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2018.