A garota Desconhecida (2016), dos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne, deixa os sentimentos de solidariedade em ebulição. Em uma pequena clínica na cidade Belga de Liège, a médica Jenny (Adèle Haenel) depois de um dia cheio, não atende às batidas na porta do hospital (já passam das 20:00). Na manhã seguinte, Jenny é informada que uma garota que apareceu à porta, estava procurando refúgio e foi assassinada bem próximo, apenas alguns metros do hospital. Com a consciência a lhe martirizar, Jenny procura amenizar o erro: envolve-se no caso, busca por suspeitos, divulga a foto da vítima, uma imigrante africana, e compra um jazigo para sepultá-la com dignidade. Com um enredo sobre a angústia existencial, bem simples, porém, repleto de possibilidades naturalistas, os irmãos Dardenne, esmiúçam o comportamento humano, flertando com o cinema de gênero, no caso o suspense policial. Um filme envolvente que nos faz analisar nossas atitudes, omissões e remissões em um mundo cada vez mais individualizado. Os Dardenne estiveram bem melhores em “O Filho” (2002) e o excepcional “A criança” (2005), mas, mesmo quando falham em alguns aspectos, nunca deixam de ser profundos e filosóficos.