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    Poderia Me Perdoar?
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Poderia Me Perdoar?

    A inspiração pode vir de lugares inimagináveis

    por Barbara Demerov

    Ao forjar cartas de autores e personalidades famosas, tais como Katharine Hepburn, Tallulah Bankhead e Dorothy Parker, a jornalista e escritora Lee Israel construiu uma imagem controversa na década de 90. Alguns anos após ter biografias no topo de vendas, Lee viu sua carreira decair a ponto de nem sua própria editora querer publicar algo de sua autoria, e pior: ela mesma passou a desacreditar no potencial do que gostaria de escrever. Por isso, assim que viu a oportunidade de vender documentos originais e, principalmente, escrever cartas e documentos em nome de outrem, Lee encontrou uma vocação realmente inusitada.

    Poderia me Perdoar? aborda muito bem o tema da identidade e salienta o fato de como Lee trabalhava na penumbra de si mesma. Até mesmo em suas obras mais vendidas, todas estas foram biografias de outras pessoas, e a personagem nem ao menos faz questão de aparecer para o público - por mais que os leitores mais ávidos a reconheçam pelas ruas de Nova York. Na pele da autora, Melissa McCarthy entrega uma atuação extremamente concisa, realista e profunda como um indivíduo que, mesmo solitário, não consegue encarar a vida de outro modo.

    O mais interessante é perceber como a inspiração de Lee se manifesta no decorrer do filme. Nos momentos em que fica à frente da máquina de escrever para criar algo do zero, há apenas olhares dispersos e a falta de palavras; mas a partir de quando ela vende uma carta original de Katharine Hepburn que estava emoldurada em sua casa, a necessidade de se estabilizar financeiramente entra em contato direto com a chance e a vontade de ganhar novamente sua voz - mesmo não sendo exatamente dentro do mercado literário. Os erros que cometeu ao longo da carreira finalmente poderiam ser esquecidos através dos pensamentos de outras pessoas, pois Lee enfim conseguiria criar, além da autoconfiança, pequenas histórias que renderiam altos valores.

    Indo de encontro com a inspiração pelo "lado de fora", Lee de fato acredita que isto é a melhor coisa que já havia feito em todos os anos como escritora, e o filme mostra bem tal sentimento. Porém, ele é passageiro. Existe uma contraposição na própria atuação de diversas camadas de McCarthy, que entrega em seu olhar certo desconforto a cada vez em que visita uma loja para vender suas cartas.

    Não há necessariamente maldade em nenhum de seus atos, mas sim a tristeza por não poder compartilhar que é ela quem devolve a vida a tais personalidades. Assim como em seu emocionante discurso próximo ao desfecho do longa, um tom agridoce toma forma e adiciona mais uma camada à complexidade de sua vida e de seu ego. Sendo assim, é possível sentir empatia com relação a essa figura que, posteriormente, encontrou a inspiração para escrever um livro de memórias sobre todo este caso.

    Com a companhia de Jack Hock (Richard E. Grant, coadjuvante que rouba a cena por muitas vezes), Poderia me Perdoar? ainda possui alguns momentos de descontração, mas a base da história nunca deixa de ser carregada e triste. Mesmo que com uma estrutura convencional para filmes biográficos, a trama possui bons momentos - estes sempre sendo divididos entre McCarthy e Grant, que ajudam um ao outro a atingir uma sensibilidade de alto nível.

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