Logo nos primeiros instantes, o documentário “Eu sou Carlos Imperial” (2014), de Renato Terra e Ricardo Calil (diretores também do excelente “Uma noite em 67”) já mostra ao que veio com trecho de entrevista do biografado em que ele diz. “Sempre tive ligações com a intelectualidade desde criança. Era um intelectual. Até que descobri que intelectual não come ninguém, aí virei cafajeste”.
A partir daí, quem conhece apenas superficialmente Carlos Eduardo da Corte Imperial fica sabendo ao fundo quem foi o sujeito que talvez encarnou melhor o espírito brasileiro dos anos 50 até seu falecimento em 1992. Cascateiro, mulherengo, marqueteiro, ator, diretor, cineasta, produtor, político, compositor e descobridor de artistas, Imperial é mais que um personagem caricato que por vezes colou no imaginário brasileiro.
O documentário, que teve seu lançamento oficial no Festival É Tudo Verdade em São Paulo e no Rio de Janeiro no mês de abril, e em breve estará no circuito é altamente recomendável. Conta com um ritmo muito bom de edição, rico em imagens de arquivo e depoimentos, o que facilita compreender as várias facetas do artista. Desde o peculiar relacionamento com os filhos, o questionável hábito de se apoderar de canções de domínio público e omitir parceiros musicais até a sua enorme importância no início do rock no Brasil, na descoberta de astros do porte de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia, Wilson Simonal e Elis Regina e nas suas maluquices que agitaram o cenário cultural tumultuado do país sob ditadura militar com seus filmes e peças de teatro.
Mais do que isso, Carlos Imperial foi um visionário ao ser o primeiro a usar a imprensa a seu benefício com a criação de factoides e “flagras”. Simulação de brigas, falsas polêmicas e discussões. Tudo isso armado com o intuito de divulgar um novo produto, seja ele um novo afilhado, uma canção ou a si mesmo. Hoje essas situações promovidas por subcelebridades são comuns de se ver em sites de fofocas e revistas
“Eu sou Carlos Imperial” tem como grande mérito trazer à tona uma discussão à nossa sociedade por meio da controversa figura de Imperial: o que nos tornamos? Para onde estamos indo com essa onda do politicamente correto? Um cara como Imperial teria vez no Brasil de 2015?
Respondo parcialmente: noves fora os exageros e histrionismos precisamos de caras como Carlos Imperial para um contraponto. Ele era e é um retrato do brasileiro clássico e faz parte da nossa essência ser – um pouco que seja – um malandro na luta diária.