Simples homenagem
por Bruno CarmeloEste documentário pernambucano possui uma ambição clara, anunciada desde os primeiros minutos: dar visibilidade às “mães do Pina”, grupo de mulheres religiosas do bairro de Pina, no Recife. Estas personalidades do candomblé são vistas como guerreiras, sobrevivendo às dificuldades financeiras e construindo um importante legado cultural à comunidade.
O diretor Leo Falcão mune-se de um discurso político e social: é preciso valorizar as lideranças femininas, combater o racismo e a febre da especulação imobiliária que ameaça várias destas mulheres. Trata-se de uma intenção nobre e defensável, infelizmente traduzida em um filme que não consegue traduzir a consciência política de seu autor.
A estrutura do documentário é bastante convencional, baseando-se principalmente nos depoimentos de cinco mães do Pina às câmeras. Elas não parecem ter sido orientadas pelo diretor, falando livremente sobre temas diversos, combinados pela montagem de modo livre e não narrativo. Descobre-se um pouco de suas anedotas, suas histórias e tristezas, mas por falta de outras entrevistas (com pessoas de fora da comunidade, por exemplo), de imagens de arquivo ou mesmo de construções mais poéticas do lugar, não se conhece a fundo nenhuma dessas mulheres.
Faltou ao filme tocar em questões fundamentais a qualquer figura de liderança: como essas mulheres se tornaram quem são? Quais são as implicações políticas, financeiras e profissionais de seguir este caminho? De que maneira as crenças pagãs do candomblé se entrelaçam com o catolicismo majoritário no Estado? Como são tratados os homens diante desta liderança feminina, em uma área de forte tradição patriarcal? Nenhum destes aspectos é plenamente resolvido.
Esteticamente, o documentário demonstra grande fragilidade. A captação de som direto não é suficiente para que todos compreendam as falas das entrevistadas, de modo que muitos diálogos se perdem – algo particularmente problemático em um filme tão dependente das palavras. A fotografia escolhe um curioso preto e branco artificial, onde nenhum tom é realmente preto, e nenhum é realmente branco. As imagens ganham um tom lavado, levemente esverdeado, enquanto a pós-produção mantém as cores apenas para itens religiosos (colares das mães) e prédios na paisagem. Esta escolha tampouco se esclarece: por que destacar com o mesmo procedimento algo percebido como positivo (os símbolos religiosos) e algo percebido como negativo (a verticalização da cidade)?
Apesar das boas intenções, Mães do Pina precisaria ser tratado de modo dialético, aprofundado, e com um refinamento estético mais apropriado a um universo religioso e social com tantas cores e tanta história.
Filme visto no 19º Cine PE Festival Audiovisual, em maio de 2015.