Tom Ford é um diretor extremamente estiloso e muito conectado com o visual. Ele teve seu debute como produtor, roteirista e diretor em 2009 com o ótimo Direito de Amar (uma das piores traduções de títulos de filmes em português de todos os tempos). Por ser um homem que alcançou o sucesso no mundo da moda, é inegável o esmero visual que ele emprega em sua carreira cinematográfica. Tudo que vemos na tela parece minimamente pensado, milimetricamente calculado, num perfeccionismo extremo. O filme já começa causando certo desconforto, por mostrar mulheres obesas nuas dançando (o que foi amplamente divulgado pela mídia, mas que ainda assim causou choque no público da sala de cinema). E o filme se envereda numa narrativa bem interessante, em que uma mulher (Amy Adams), que trabalha como negociante de arte numa galeria, e que vive infeliz num casamento com um bonitão (Armie Hammer), recebe o manuscrito de um romance escrito por seu primeiro marido (Jake Gylenhaal), intitulado Animais Noturnos, cuja brutalidade da trama causa um grande impacto em sua vida. O filme conta com um elenco de astros que está atuando de forma espetacular aqui. Amy Adams está excelente, mais uma vez. Parece que vem mais uma indicação ao Oscar, por este filme ou A Chegada; Jake Gylenhaal se divide em dois papeis: o ex-marido de Susan (Adams), e também do protagonista do livro escrito por ele, o que lhe dá cenas muito difíceis, interpretadas de maneira visceral; Michael Shannon faz um policial texano e mostra sua eficácia de costume; até o Aaron Tyler-Johnson está bem em cena, com um papel também bem difícil, e sua atuação chegou a ser indicada a prêmios como o Globo de Ouro. Além de uma parte técnica e estética muito eficaz, o filme tem um clima sombrio muito bem desenvolvido. Dá pra perceber de cara essas qualidades, que saltam a vista e fogem da mesmice que vemos aos montes no cinemão americano. Para ser sincero só não gostei do final abrupto e em aberto. Finais do tipo sempre são arriscados, e por vezes funcionam, mas não aqui. Quando os créditos finais aparecem na tela, surge quase que instantaneamente aquela sensação de “não acredito que acabou assim”. Parece que faltou o desfecho, justamente quando se encaminhava para isso. E isso causa uma decepção, já que até então o filme prendeu a atenção e manteve o espectador numa baita expectativa que não foi, por fim, alcançada. Se analisarmos bem, há um porquê de ter terminado da forma que terminou, mas ainda assim fica a sensação de que não precisava ser dessa forma. Ele poderia ter feito todos esses questionamentos que faz durante o filme, mas essa obsessão por não dar muitas respostas fáceis meio que faz com que o espectador fique sem perceber ao certo se entendeu a proposta.