Café Society é o 47º filme de Woody Allen. Isto significa quase um filme por ano desde que começou sua carreira como diretor (e ator em muitos deles) de seus próprios filmes. Talvez não tão versátil, mas igualmente prolífico que seus conterrâneos e contemporâneos Steven Spielberg e Martin Scorsese, Allen já fez além de comédias, em sua maioria, alguns dramas, um autêntico conto-de-fadas (A Rosa Púrpura do Cairo) e até mesmo um falso “documentário” (Zelig), que praticamente deu origem a um novo gênero no cinema.
Seu novo filme começa como a maioria de seus filmes. Uma apresentação de créditos que se limita a apresentar os membros da equipe em letra branca sobre um fundo preto com a trilha de algum clássico do jazz, onde já é possível identificar mudanças em sua equipe principal. Neste filme, não são produtores Jack Rollins e Charles H. Joffe. Allen também não conta mais com a colaboração do fotógrafo Gordon Willis, recentemente falecido e substituído à altura pelo mestre Vittorio Storaro – aqui auxiliando Allen em seu primeiro filme digital. Mas um antigo colaborador de Allen marca presença: o diretor de arte e figurinista Santo Loquasto, com um trabalho notável de reconstituição de época.
Para aqueles desencantados com seus 2 últimos filmes, e que achavam que Allen já tinha perdido a mão, seu novo filme prova que não. Seus temas de sempre estão lá, e sua eterna missão de garimpar novos rostos para compor seu elenco. Pela primeira vez em um filme de Woody Allen, encontramos Kristen Stewart, Jesse Eisenberg e Steve Carrell como o triângulo amoroso da trama. Blake Lively (revelada no discreto sucesso A Incrível História de Adeline), no entanto, parece um desperdício de beleza e talento, não tendo muito o que fazer no filme. Por outro lado, o elenco de coadjuvantes, de nomes e rostos desconhecidos pela maioria do público, praticamente rouba a cena dos protagonistas. Allen demonstra muito carinho por estes personagens, que são apresentados como personagens com alma, completos. E é deles a maioria das cenas cômicas do filme.
Café Society se destaca muito mais pela direção de Woody Allen do que por seu roteiro. Uma ligeira desvantagem, já que Allen é o tipo de cineasta que estrutura seus filmes basicamente na história e diálogos, sem dar muita importância para a parte técnica - movimentos de câmera, montagem, etc. Woody Allen hoje não significa mais o que significou nas décadas de ´70 e ´80, quando era um dos pilares do cinema autoral americano. Allen deixou de ser relevante. Embora tenha proporcionado aos cinéfilos 2 gratas surpresas relativamente recentes (Meia-Noite em Paris, um inesperado sucesso junto ao grande público, e Blue Jasmin), seu novo filme se junta àqueles classificados como seus “pequenos filmes”. É possível desfrutá-lo, se sua expectativa estiver dimensionada às modestas pretensões do filme.