Tire o capuz, e o que encontrará?
por Barbara DemerovErrol Flynn, Sean Connery, Kevin Costner e Russell Crowe são apenas alguns dos nomes que já encarnaram no cinema e na TV o herói inglês conhecido por tirar a riqueza dos ricos para dar aos pobres. Agora, o manto (ou melhor, o capuz) recai em Taron Egerton, ator que protagoniza mais uma história de origem que começa quando este ainda é jovem, diferente do que acontece com o filme de Ridley Scott com Crowe na linha de frente, em 2010. Dirigido por Otto Bathurst, esta nova revisita ao universo do justiceiro do século XII tenta se encaixar num estilo mais "pop", mas acaba sendo pouco convincente no que se diz respeito às verdadeiras motivações do personagem principal.
A produção tem como base contar a história do Robin Loxley antes de se tornar Robin Hood através de seu romance com Marian (Eve Hewson), interrompido pelos deveres de lutar nas Cruzadas. Ao ficar quatro anos fora e ser dado como morto pelo maldoso xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn, que está idêntico ao vilão que viveu em Rogue One), Robin perde tudo: seu lar, a paz de sua vida anterior e Marian. Mas a guerra serve para o protagonista viver uma realidade bem diferente daquela que estava acostumado, com estabilidade e conforto. Com isso, ele se dá conta de que precisa ajudar os mais necessitados a fim de viver seu verdadeiro propósito: o de trazer justiça.
Se ao mesmo tempo esta história soa muito bem quando resumida assim, há um grande problema em contrapartida: a motivação de Robin não é devidamente explicada e, na verdade, o personagem volta da guerra para reconquistar Marian, e não pensando em seguir sua famosa ideologia de roubar para fazer o que é correto. Suas mudanças comportamentais soam abruptas e, no mínimo, forçadas para se adequarem ao tom do filme, que pesa mais para o lado da ação que para o lado reflexivo.
Tal ideologia é trabalhada por John (Jamie Foxx), também um veterano das Cruzadas que acompanha Robin secretamente até a Europa com o intuito de fazê-lo entender seu senso de justiça, e talvez segui-lo. Little John acaba sendo o personagem que mais se aproxima do folclore, mesmo com a presença irreverente de Foxx. Contudo, tudo soa tão artificial que até mesmo adentrar na atmosfera medieval que nos é apresentada fica um pouco difícil. O discurso político, apesar de importante, é mostrado da maneira mais simplista possível com o contraste entre a vida do xerife e a escuridão apresentada na área mais afastada de Nottingham. Os treinos de Robin com John são bem executados, mas a missão de ajudar os pobres fica dúbia em diversos momentos - afinal, eles estão se unindo com as mesmas ideias ou são as ideias que se unem eventualmente? Robin Loxley vai se tornando aos poucos Robin Hood, mas sua construção não vai muito além da adição do famoso capuz a fim de esconder sua real identidade.
Sendo a principal motivação do herói o seu breve relacionamento amoroso com Marian, Robin Hood: A Origem não faz tanto jus ao senso de justiça e preocupação com o próximo. É interessante acompanhar sua evolução com o arco e a flecha (cujos conhecimentos foram iniciados já nas Cruzadas), mas a força de suas palavras proferidas contra os tiranos de Nottingham fica aquém de sua força física. A presença de Eve Hewson como Marian mostra o quanto a personagem se importa em ajudar e se impor quando necessário - até mais que seu atual companheiro, Will (Jamie Dornan), e Robin - e dá mais profundidade às dificuldades enfrentadas pela população que sofre com roubos e mentiras. Marian é a verdadeira face da justiça no filme, mas o roteiro teima em sempre colocá-la entre Robin e Will, transformando-a num cabo de guerra que ambos tentam puxar para si. As divergências políticas entre os dois homens já seriam mais que suficiente para trazer mais veracidade a história, afinal.
Robin Hood: A Origem conta os primórdios da luta do herói contra avareza e desigualdade de maneira genérica, provando, assim como Rei Arthur (2017), que existe certa saturação em filmes de ação que buscam a inovação ao viajar para dentro de histórias já bem conhecidas pelo imaginário do público. Se ao menos no filme de Guy Ritchie existe mais estilo e personalidade na direção, bom uso de slowmotion e bons efeitos nas sequências de ação, o filme de Otto Bathurst não possui identidade própria, sendo um compilado de clichês que visa avançar para o caminho mais fácil sem que haja explicações que poderiam muito bem trazer mais aproximação para o protagonista. Por fim, Robin Hood pode ser identificado mais como um jovem em busca de sua identidade do que de fato o protetor encapuzado.