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    Sem Filhos
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Sem Filhos

    De Até que a Sorte nos Separe a Um Lugar Chamado Notting Hill

    por Renato Hermsdorff

    Nem sempre há um consenso, mas no meio audiovisual não faltam exemplos de produções que começam bem e terminam mal: aquela obra em que o diretor capricha nos ingredientes, para entregar um bolo solado no final (Lost?) Esse é o caso inverso do de Sem Filhos, filme que, depois de massacrar o espectador com uma repetição incansável na apresentação dos personagens, acaba se desenrolando em uma trama leve e divertida – dessas que te pregam um sorriso no rosto pelo resto do dia. A dica, portanto é: persevere.

    A comédia argentina (“críticos, insiram aqui sua frase a respeito de quanto o cinema argentino tem superado o brasileiro”) comandada por Ariel Winograd (Meu Primeiro Casamento) conta a história do reencontro de Gabriel (Diego Peretti) e a ex-colega de classe Vicky (Maribel Verdú), que se apaixonam na maturidade. Ele é o devotado pai de uma menina, Sofia (Guadalupe Manent, guarde esse nome) de 9 anos; ela, uma mulher independente e errante que tem fobia de... crianças. Compreendeu qual o conflito, certo?

    Na apresentação dos personagens, toda (to-da) a mise-en-scène é montada no sentido de explorar a informação de que ele ama (a-ma) a filha; e de que ela odeia (o-dei-a) todas as crianças do mundo.

    Subestimando a inteligência do espectador, o roteiro de Pablo Solarz e Mariano Vera pesa a mão na repetição das situações e não há uma cena no primeiro terço do filme que não sirva a esse propósito, o que torna toda essa parte repetitiva, chata mesmo.

    Com uma embalagem caprichada (“críticos, vocês têm razão”), Sin hijos (no original) ganha graça à medida em que a personagem da criança passa a ter mais importância. De personalidade forte, cheia de atitude, mas sem perder a inocência da infância, Sofia é uma espécie de Pequena Miss Sunshine amadurecida, vitaminada com a malandragem latina.

    É ela que garante os melhores momentos do filme (mérito divido com os roteiristas, claro); que insere sutileza nas situações típicas da comédia de erros, onde o pai/ namorado tenta esconder uma da outra. E Guadalupe Manent faz os experientes Peretti (O Médico Alemão) e Verdú (Branca de Neve) de escada.

    Assim, o que começa como uma comédia televisa e previsível como as que têm feito sucesso (dinheiro) no cinema nacional recente, aos poucos, se transforma numa bem-humorada (e debochada) comédia romântica. De Até que a Sorte nos Separe a Um Lugar Chamado Notting Hill (incluindo, aí, uma referência explícita ao filme de 1998 protagonizado por Julia Roberts), a evolução de Sem Filhos deixa um gosto doce na boca ao fim da projeção.

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