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    Um Perfil para Dois
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Um Perfil para Dois

    Os dois maridos de 'Dona' Flora

    por Renato Hermsdorff

    Quando o assunto é cinema, os franceses têm boa fama. Mesmo quando produzem comédia - por alguns, considerado um gênero inferior, e que tem liderado as bilheterias também por lá -, o fazem com um charme a mais, é verdade. Não à toa (leia-se “a depender do sucesso comercial”), Hollywood tem anunciado refilmagens de títulos recentes produzidos pelo país europeu. Foi assim com LOLA (aqui o original foi traduzido como Rindo à Toa), será assim com A Família Bélier e, claro, o hit Intocáveis, para ficar em exemplos mais recentes.

    Ao assistir a este Um Perfil para Dois, a impressão que fica é a de que o anúncio do remake norte-americano é só uma questão de tempo. Tempo, claro, no sentido de dinheiro (o quão lucrativa será a carreira de Un Profil Pour Deux na terra do croissant). Assim como os supracitados, o longa de Stéphane Robelin (do ótimo E se Vivêssemos Todos Juntos?, de 2011) é a típica comédia de situação - ou de erros. Na definição “clássica”, comédia é a história que termina bem (em contraponto à tragédia), que visa à diversão - não exatamente ao riso. E, nesse sentido, pode até partir de uma premissa negativa.

    Pois bem. Alex (Yaniss Lespert) é um fracassado, um loser como se diria em Los Angeles. Aspirante a escritor, o rapaz conhece Juliette (Stéphanie Crayencour) por acaso e logo já está morando na casa da moça. Sem emprego fixo, no entanto, se sujeita a ser o faz-tudo da casa onde ela mora com os pais. Entre suas novas funções, está a de ensinar como usar a internet ao avô da namorada, Pierre (o veterano Pierre Richard), um viúvo recente, que não vê mais por que sair de casa. Para piorar, ele ainda precisa esconder do “velho” a relação com a neta, uma vez que Juliette se separou recentemente de um tipo querido pela família - e ela também não tem se dado com o avô.

    Ao contrário do que anunciaria o locutor da "Sessão da Tarde", este rapaz não vai aprontar altas confusões para provar seu valor para essa gata. O que acontece é que Pierre acaba clicando em um desses sites de relacionamento e, por conveniência - e insegurança - passa a usar uma foto do “professor” como imagem de perfil. Quando marca um encontro com a bela Flora (Fanny Valette), é Alex quem tem que dar as caras. E aí, sim, altas confusões acontecem.

    É aí também que está a graça do filme de Stéphane Robelin, responsável, inclusive, pelo roteiro. A partir de dois perfis desiludidos (trágicos), ela entrega uma história que valoriza, apoiada na relação do dois, o lugar social de um faixa etária um tanto renegada pelo cinema (e que ela mesmo já havia iluminado em seu longa anterior - fica a dica, Hollywood!) Embora a metáfora sobre o cabo de guerra entre o amor e paixão - que complementam o homem ideal para Flora (e “seus dois maridos”) - não seja exatamente original, é executado pela realizadora de forma a não subestimar a inteligência do público.

    Simpático - ainda que não inesquecível -, Um Perfil para Dois cumpre com inspiração sua função de divertir. O final, no entanto, é amarrado demais - tira do espectador o delicioso benefício de preencher lacunas com a própria imaginação. Por outro lado, nem precisaria ser alterado pelos produtores norte-americanos interessados na refilmagem.

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