Baseado no livro Um Pai de Cinema, escrito pelo chileno Antonio Skármeta, O Filme da Minha Vida, dirigido e co-escrito por Selton Mello, acompanha a história do jovem Tony Terranova (Johnny Massaro), que nasceu e cresceu numa pequena cidade do interior gaúcho. No primeiro ato do longa, ele fala a respeito do pai (Vincent Cassel), que nasceu na França, mas casou e constituiu família no Brasil. Para seu pai, Tony tinha que estudar para ser alguém na vida.
Chega a ser uma metáfora bastante interessante que, no mesmo momento em que Tony regressa da capital gaúcha, onde se formou professor; o pai dele parta no mesmo trem, sem explicação, de volta à França. Tony, agora, já é um homem feito e formado, tem uma profissão e pode assumir o papel dele como “homem da casa”; mas a sombra da ausência do pai será sempre presente em sua vida, especialmente porque ele não faz ideia das razões que levaram o seu genitor a abandonar a família, ainda mais daquele jeito.
Portanto, O Filme da Minha Vida acompanha essa lacuna na vida de Tony, ao mesmo tempo em que mostra a personagem tentando se virar sem o pai, lidando com os primeiros conflitos de uma vida adulta, mas que acaba tendo contornos de adolescência, como a relação que ele estabelece com os seus jovens alunos, o convívio com o melhor amigo do pai (Selton Mello) e a descoberta do primeiro amor com Luna (Bruna Linzmeyer).
Esse processo de amadurecimento pelo qual Tony passa – e que está perfeitamente mostrado, na ótima atuação de Johnny Massaro – será muito importante para a personagem no último ato de O Filme da Minha Vida, quando ele, com muita sabedoria, desenrola aquela que é a sua maior vulnerabilidade. A beleza desse último ato, aliás, com um final completamente aberto para interpretação da plateia, é a prova do grande diretor em que Selton Mello (um dos atores mais talentosos que possuímos) se transformou. Em uma obra totalmente intimista, o diretor demonstra uma maturidade enorme em transformar a história de Tony em algo universal, num filme que, com certeza, terá uma trajetória bonita – especialmente, em solo internacional.