Muito mais que um filme de terror , "Carrie, a estranha" é uma obra extremamente melancólica e dramática , sobre uma menina que vive um verdadeiro tormento. De um lado, encontra-se sua mãe, uma mulher enlouquecida , com uma fé religiosa deturpada. Do outro, estão seus colegas de escola que a humilham, pois sempre esteve em alta entre os adolescentes desprezar quem difere da maioria , mesmo que o diferente seja melhor. O aposto "a estranha" acrescentado no Brasil ilustra bem a barreira que as pessoas colocam entre elas e os menos convencionais. Porém, Carrie não deseja destoar. Ela quer fazer parte do grupo; ela quer ser aceita e querida como qualquer outra garota da sua idade. Porém , ela é bem diferente; não apenas pelas imposições da mãe , também por seus poderes telecinéticos. Com a força do pensamento Carrie pode incendiar literalmente o que ela desejar. Uma cena que merece destaque é quando Carrie dança com Tommy e o rapaz se sente realmente e sem querer fazer nenhum trocadilho, estranhamente feliz. Muitos filmes de amor não conseguiram fazer uma cena tão profundamente romântica, que ilustra de forma tão sensível o estado de espírito de um personagem. As luzes ofuscantes do baile , o tom rosado da imagem , a câmera que acompanha o movimento dos dois adolescentes, a trilha sonora nostálgica nos transportam para o mundo interior de Carrie : delicado, poético, ingênuo. "Carrie, a estranha" é muito mais que um filme de terror; é muito mais que um filme sobre bullying , loucura , fanatismo religioso ou poderes telecinéticos; é um filme sobre nossos limites; sobre até onde podemos suportar a dor e as humilhações; sobre a força e a violência das nossas emoções que podem explodir a qualquer momento, ferindo terrivelmente quem estiver ao redor. Assustadoramente belo , poético e trágico. Uma experiência cinematográfica bastante peculiar.