Não me surpreenda
por Bruno CarmeloEsta produção de terror começa bem: a americana Greta (Lauren Cohan) é contratada para ser a babá de um garotinho num casarão inglês. Ela logo descobre que a criança, na verdade, é um boneco, criado como se fosse real pelos pais idosos que não conseguem aceitar a morte do filho verdadeiro. Diante deste comportamento atípico, a reação de Greta é verossímil: ela ri, debocha, mas aceita o jogo em função da seriedade dos pais. Eventualmente, sente pena por eles.
A primeira parte de Boneco do Mal desperta interesse por brincar com elementos da percepção: o brinquedo nunca se move diante de Greta, mas os objetos somem ou se deslocam quando ela não o observa. Em todos os casos, persiste a dúvida: o boneco estaria assombrado, ou seriam apenas fatores possivelmente explicados pela ciência, como o vento derrubando objetos e o cansaço criando alucinações? Explora-se a questão importante do conhecimento humano entre a razão e a fé, a lógica e o misticismo. Enquanto isso, o diretor William Brent Bell faz um trabalho simples, mas cuidadoso na composição do ritmo e das imagens.
Esta boa impressão é atenuada pelo segundo terço da história, quando entram em cena alguns truques fáceis dos filmes de terror: barulhos no quarto ao lado, efeitos sonoros destinados a provocar sustos baratos e pesadelos sombrios. Os melhores filmes de terror são aqueles que exploram a complexidade psicológica de seus personagens, por isto, é uma pena que a premissa potente ganhe um desenho de som tão genérico. Esta escolha é ainda mais lamentável porque as atuações são competentes, especialmente a de Jim Norton, que demonstra vigor com os diálogos. Lauren Cohan e Rupert Sanders também se saem bem.
Chega então o terço final da história, quando Boneco do Mal se transforma por completo. O filme sofre com a ânsia pueril de querer surpreender a qualquer preço, oferecendo uma reviravolta impensável ao público que já viu de tudo. O roteirista Stacey Menear acredita que está criando o novo O Sexto Sentido, mas sua solução para o conflito é tão absurda que despertou risos gerais na sala de cinema. Neste momento, a história perde seu sentido, os personagens contradizem suas ações e entra em cena um ator pavoroso, Ben Robson, contribuindo a afundar o projeto.
O final deixa a impressão de desperdício. O material serviria a um horror psicológico complexo, mas sucumbe à tentativa espetacular de estar um passo à frente de seu público – e também dos personagens, e de qualquer sentido lógico. Para piorar, o roteiro abre a via para a possível sequência, algo que dificilmente acontecerá após os resultados modestos na bilheteria. Este é mais um projeto que troca seu potencial narrativo pela tentativa de chocar, “viralizar”, funcionar como um genial golpe de marketing. Mas como cinema, é sensacionalista e vazio.