Um filme sobre um filme ruim sobre uma obra de arte invisível
por Bruno CarmeloEste projeto começa com um potencial incrível. O artista Edward Ruscha afirma ter criado uma pedra falsa nos anos 1970 e colocado no deserto de Los Angeles, misturada às pedras reais. Ninguém jamais encontrou a obra de arte. Mas Pierre Bismuth, artista pop francês e roteirista de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, decidiu fazer uma pesquisa durante anos em busca da peça batizada de Rocky II. Depois, contratou atores para transformar sua investigação pessoal numa ficção.
A premissa funcionaria como porta de entrada para discutir os limites da arte contemporânea, a distinção entre o verdadeiro e o falso na criação artística, a figura do criador misturada à criação, o papel da (auto)publicidade dos artistas no movimento pop, a própria definição de arte (se ninguém jamais viu uma obra, ela pode ser considerada arte?) etc. Exit Through the Gift Shop, excelente falso documentário de Banksy, mergulhou nestes questionamentos através da ascensão meteórica de um falso artista.
Mas Bismuth abandona todo questionamento sobre arte. Seu ponto de partida é um quadro e uma citação de Ruscha: “Hollywood é um verbo. Você pode Hollywood qualquer coisa. Você pode Hollywood tudo”. Assim, decide transformar a busca pela pedra numa produção espetacular, com música de suspense a todo instante, frases de efeito e cenas de ação no deserto Mojave envolvendo atores profissionais como Robert Knepper e Milo Ventimiglia. O cineasta não se limita a ficcionalizar a busca, a figura do detetive e a própria obra de arte, ele precisa ridicularizar estes elementos.
A abordagem condiz com o trabalho de Bismuth como artista plástico, conhecido por satirizar obras preexistentes, mas no cinema narrativo, o resultado é pouco empolgante. Primeiro, como falso documentário, Onde Está Rocky II? nunca convence, por usar recursos estéticos típicos da ficção (planos e contraplanos, close-ups, câmera acompanhando a movimentação exata dos personagens). Como ficção, temos uma piada interna que gira em falso: o diretor usa roteiristas reais para o papel de roteiristas, fala com curadores reais sobre a curadoria. Quem reconhecer todos os nomes e rostos pode achar engraçado ver roteiristas roteirizando. Mas o potencial subversivo desta representação é nulo.
Como paródia, por fim, o projeto fracassa totalmente. A intensificação dos códigos hollywoodianos nunca é intensa o suficiente para provocar o humor, talvez por limitações de produção. Onde Está Rocky II? parece desprovido dos recursos necessários para parodiar blockbusters, e incapaz de atingir a ironia fina de um Charlie Kaufman ou Spike Jonze. A própria ideia de apontar o lado artificial de Hollywood constitui uma obviedade, principalmente na época em que o vídeo, a Internet e as redes sociais já assimilaram e reconfiguraram a paródia em gêneros novos. Poderia se pensar que, ao misturar a ficção e o documentário, um artista pop traria uma reflexão interessante sobre a obra de outro artista pop. Mas sobre cinema, Bismuth não tem nada relevante a dizer.