Em busca da glória
por Francisco RussoA não ser que você seja um obcecado por esportes - não me refiro apenas a futebol, mas a todo tipo de esporte -, é bem provável que não tenha a menor ideia de quem seja Eddie "The Eagle" Edwards. O que é bom, ao menos para Voando Alto. O pouco conhecimento do público brasileiro de certa forma auxilia no desenrolar da saga deste jovem britânico que, desde criança, sonhava em participar das Olimpíadas. Preste atenção ao detalhe: sua aspiração maior não era ganhar uma medalha, mas simplesmente participar.
Por mais que siga à risca o espírito do barão de Coubertin, criador das Olimpíadas que pregava que o importante é competir, a grande verdade é que o longa-metragem busca espremer ao máximo esta clássica história de superação. E o clássico se refere também a formato, o que inclui trilha sonora edificante e valorização dos esforços feitos e da luta contra o sistema em busca da glória. Nada muto diferente do que você já viu em dezenas de outros filmes, só que ainda mais pasteurizado.
Senão, vejamos: já a primeira cena do longa retrata Eddie, ainda criança, cronometrando quanto tempo consegue prender a respiração na banheira. Sem um esporte preferido, ele passa a atirar para todos os lados - e, em cada um deles, fracassa. O termo loser, tão familiar aos norte-americanos, está tatuado em cores vivas em sua testa. Ao crescer, supera problemas físicos e ganha outros tantos, sociais. Sua determinação faz com que minimize o bullying sofrido e os cacoetes faciais que, por mais que bem caracterizados por Taron Egerton, provocam uma certa estranheza ao espectador. O importante é participar das Olimpíadas, seja lá como for.
É neste espírito de "vale tudo pelo sonho" que este drama família com cara de Sessão da Tarde é conduzido pelo diretor Dexter Fletcher. A mistura entre ingenuidade e trapalhadas traz a Voando Alto um tom leve e ao mesmo tempo burocrático, sem qualquer surpresa ou até divertimento. Até mesmo a entrada em cena de Hugh Jackman, em mais um clichê do esportista problemático que tem algo a provar a si mesmo, pouco acrescenta. Por mais que seja carismático, seu herói torto rende momentos risíveis, como o olhar de Wolverine ao descer a rampa e a simulação de orgasmo com Bo Derek (sim, isto acontece!).
Voando Alto apenas encontra o seu tom no terço final do longa-metragem. É lá que o inusitado ganha forma, sendo auxiliado por um certo tom épico assumido pela narrativa e pelo lado humano decorrente dele. Os comentários bem humorados de Jim Broadbent, em pequena ponta, também ajudam. Fosse o filme mais focado diretamente nos eventos da Olimpíada, e menos na trajetória de como Eddie chegou até ela, seria mais interessante e bem menos burocrático.
Como curiosidade, fica o detalhe de ser esta Olimpíada de Inverno a mesma em que uma equipe jamaicana se aventurou no bobslead - uma história que já rendeu o divertido Jamaica Abaixo de Zero. No fim das contas, ambos os filmes trazem conceitos parecidos envolvendo ingenuidade, determinação e crença no poder do esporte. A diferença é que Voando Alto está a anos-luz de distância em relação a diversão e carisma.