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    Rainha de Katwe
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Rainha de Katwe

    A regra e a exceção

    por Bruno Carmelo

    A jovem ugandense Phiona Mutesi (Madina Nalwanga) leva uma vida dura. Trabalhando desde pequena, não tem dinheiro para estudar, e muitas vezes passa fome junto da mãe e dos irmãos. Órfã de pai – a Disney continua obcecada por órfãos –, ela não possui perspectivas de melhora. Até descobrir o xadrez, esporte para o qual demonstra um talento impressionante. Rainha de Katwe decide mostrar a trajetória de ascensão de Phiona em meio às adversidades.

    A diretora Mira Nair realiza uma típica fábula de superação, com todos os ingredientes necessários ao subgênero. Cada vitória de Phiona no xadrez é intercalada com um novo drama familiar (doenças, acidentes) para causar uma espécie de montanha russa emocional no espectador, entre o constante choro e riso, a esperança e a decepção. A música sentimental se alterna com ritmos alegres, as cores quentes das roupas e acessórios se sucedem às cores frias nos momentos trágicos. Os símbolos, assim como o destino de Phiona, são previsíveis.

    O aspecto mais questionável de Rainha de Katwe é o fato de que a empatia com a protagonista não se estende aos ugandenses ao redor. Sim, ela é uma enxadrista capaz de se tornar uma das melhores do mundo. Entretanto, o roteiro pretende vender esse sonho atípico como algo ao alcance de qualquer um: basta tentar, basta se esforçar, basta nunca desistir. A garota obtém sucesso através da persistência, mas o que dizer dos milhares de adolescentes que tentam tanto quanto ela, mas nunca conseguem? Que argumento lógico sustentaria a trajetória de Phiona como probabilidade, diante do fracasso dos colegas ao redor?

    O filme, como de costume nas produções familiares da Disney, tende à idealização, sem perceber que a exceção apenas confirma a regra: é muito difícil para uma criança ascender socialmente no cenário retratado. Mas o xadrez é usado como exemplo máximo da doce meritocracia: assim como, no tabuleiro, um peão pode resistir a diversos ataques até se tornar uma rainha, Phiona também pode esquivar as dificuldades e se sobrepor aos outros. A metáfora é óbvia, porém condizente com o didatismo infantil do roteiro. Além disso, o projeto carrega a ingenuidade, ou talvez ousadia, de sugerir que o xadrez possa ser uma modalidade acessível e desejada em toda a Uganda, pela metáfora de superação.

    Felizmente, essa miséria cor-de-rosa torna-se mais verossímil graças ao elenco. Lupita Nyong’o está ótima como a mãe da protagonista, assim como David Oyelowo, transbordando ternura em cada cena. Estamos num mundo grosseiramente maniqueísta – os pobres são bons selvagens, os ricos são asquerosos – mas os atores fazem o possível para conferir complexidade aos personagens. A novata Madina Nalwanga também é uma escolha muito apropriada, dotada de um olhar duro capaz de atenuar o sofrimento de sua trajetória.

    O roteiro melhora bastante quando, na segunda metade da trama, acena para a possibilidade de o sucesso subir à cabeça da enxadrista. Entre as várias lições ensinadas pelo filme – a persistência, o amor à família, o desapego aos bens materiais etc. – encontra-se também a importância da humildade. Rainha de Katwe constitui um manual de grandes virtudes, aplicadas a uma realidade convenientemente distante da norte-americana. É uma catequese tão eficaz quanto desprovida de sutileza.

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    Comentários

    • GLÓRIA MARIA RANGEL DE SÁ
      Gostei do filme. Minha nota é 9,0!
    • GLÓRIA MARIA RANGEL DE SÁ
      Concordo!
    • GLÓRIA MARIA RANGEL DE SÁ
      Sim. Concordo!
    • GLÓRIA MARIA RANGEL DE SÁ
      Vdd.
    • Jose Eduardo Claro
      A verdadeira história de Phiona Mutesi do filme Rainha de KatweA jovem Phiona vivia em uma das maiores favelas de Kampala, capital de Uganda e mesmo antes de aprender a ler conheceu o xadrez por intermédio de um missionário aos 9 anos. E ainda analfabeta se tornou uma prodígio do esporte, sua evolução foi tão surpreendente que chegou a se tornar mestra.Como toda biografia, alguns fatos e personagens são adaptados para dar melhor ritmo ao filme. Porém, a saga de Phiona se tornou pública em 2011 pelo jornalista Tim Cothers na ESPN Magazine e depois virou livro, é real e contada de maneira fiel no filme Rainha do Katwe.Inclusive a realidade dramática de Uganda é retratada de forma crua, situações de fome, violência, machismo, falta de saneamento básico e outros riscos sociais impressionam. Assim como a riqueza cultural de Katwe que aparece nas roupas multicoloridas, nos turbantes e penteados afro, na dança que surge em momentos de comemoração.
    • André Villares
      Olha, sem querer ofender as impressões de cada um sobre o filme, a grande verdade é que há méritos sim no trabalho da missão, há méritos na vida de Phiona Mutesi, etc. Porém, ela é construída como se fosse um grande prodígio no xadrez... e não é o caso! Longe disso! Seus resultados, em todas as Olimpíadas que participou foram fracos! Ela tem mérito de ter conseguido sobreviver dignamente em meio a um ambiente social extremamente perverso. Nisso ela tem méritos sim! Porém, há uma construção de colocá-la como exemplo de meritocracia naquilo que ela faz... e aí, na verdade, o filme não retrata a realidade! Ela está muito longe do que poderíamos pensar a partir das imagens do filme. Por exemplo: mostra o jogo da mesma contra uma mestra canadense! Pelo filme, há uma sugestão de que essa partida seria decisiva para alcançar o status de mestra internacional, mas está longe disso! É uma partida de primeira rodada das Olimpíadas e depois disso, sua performance foi bem fraca, assim como a participação de Uganda nos Jogos! Então, é preciso um pouco de cuidado para não acharmos que é tão real assim; ela foi escolhida para ser focada, tem méritos sim, mas suas qualidades estão mais na área midiática (venda de livro sobre sua biografia e filme) do que na performance esportiva em si.
    • Paulo Roberto
      Vim pesquisar o filme por indicação do Professor Paulo Cruz, e depois de ler esta crítica totalmente enviesada falando que os méritos pessoais não tem importância, mesmo sendo a história baseada em fatos reais, fiquei com mais vontade de ver o filme. E para aqueles que acham que o papai Estado vai lhes dar a mão até para atravessar a rua, eu lhes dou um recado: cresçam e assumam o seu protagonismo como esta Rainha.
    • Carlos Henrique L
      Foi o que o mesmo fez com o filme de Spielberg Jogador N1
    • Carlos Henrique L
      Decepção a crítica dada por este canal
    • Reginaldo Borges
      Nunca mais me norteio pelas críticas do adorocinema, que decepção!!!!!
    • marceujo74@yahoo.com.br
      Talvez se fosse um filme de Super-heróis e descartável, a nota seria melhor.
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