Grandes dretores são grifes naturais. Num certo momento da vida, acabamos vendo todos os filmes de Hitchcock, Spielberg, Bergman, Allen, Wilder, De Palma, Scorsese, Coppola.... Com Almodóvar não é diferente. Depois de alguns tropeços, como A PELE QUE HABITO (terror kitch, previsível e exagerado, com o canastra Banderas, porém ainda um Almodóvar), a gente passa a temer que o diretor perca a mão. Comecei a ver JULIETA com certo ceticismo, mas, com os minutos correndo, veio aquela velha sensação de um diretor dominando seu ofício, principalmente ao retratar a alma feminina. No caso, a história, mais contida, de uma mãe em constante desesperança pela falta de notícias da filha em mais de uma década. Novamente, as atrizes escolhidas para interpretar Julieta são excelentes e a intérprete da personagem mais jovem é lindíssima. Como em quase todos os filmes do diretor, os homens são coadjuvantes, úteis à narrativa ao afastar as heroínas, (!), dignos ao acolhê-las. Um tom predominantemente vermelho está no tempo passado, denotando o pulsar de vida e, respectivamente, os tons pastéis denunciam o viver por viver na fase presente. É um filme muito bem feito, elegantemente filmado, cenários e figurinos precisos, talvez carecendo de uma chama tão presente em outras obras do diretor. A tristeza que permeia a trama parece instalar-se vagarosamente em quem a vê, embora o diretor nunca seja óbvio. Pode-se dizer que é um bom filme, mas não uma estupenda obra almodovariana.