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    Tangerine
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Tangerine

    Tangerina 'bafônica'

    por Renato Hermsdorff

    Filmado inteiramente com uma câmera de celular (na verdade, três aparelhos iPhones 5s), Tangerine, o filme queridinho das temporadas de premiação do cinema independente (eleita a melhor ficção de temática LGBT no último Festival do Rio), é um projeto arriscado do jovem realizador Sean Baker; um divertido conto de Natal às avessas (com uma pontinha de melancolia), apoiado em atuações... “bafônicas” (termo para entrar no clima dessa produção).

    Sin-Dee Rella (Sin-Dee, para os íntimos – o melhor nome de personagem) é uma travesti, prostituta, que acaba de sair de uma “temporada” de 28 dias na prisão. Ao reencontrar a melhor amiga, Alexandra, acaba descobrindo acidentalmente que o namorado (e agenciador) Chester a está traindo (e pior, com uma mulher “de verdade”).

    A informação desencadeia uma saracoteada desenfreada da protagonista pelas ruas de Los Angeles atrás da tal amante – de quem, aliás, ela sabe muito pouco. O ritmo frenético, a trilha eletrônica (intercalada com música clássica), a aceleração das imagens, lembram Corra, Lola, Corra, o longa alemão de 1998 que revelou Franka Potente (A Identidade Bourne); já o hipsterismo do suporte, que abusa da iluminação estourada e do contraluz parece evocar o trabalho de Xavier Dolan (o cineasta prodígio de Mommy). Não é exatamente original, portanto, mas o resultado é de um forte apelo visual.

    Embora com uma narrativa um tanto repetitiva, a incorporação dos tipos (entre eles, uma família armênia chefiada por um motorista de táxi sexualmente interessado em travestis) na interpretação dos atores é de uma veracidade inegável. Eles sustentam o filme mais do que qualquer outro aspecto, sobretudo Kitana Kiki Rodriguez e Mya Taylor, que vivem as amigas Sin-Dee e Alexandra, respectivamente.

    Passado na véspera de Natal, à medida em que o dia avança, a trama aparentemente ingênua vai ganhando contorno de análise social (sem nenhum tipo de tom professoral, diga-se). Do preconceito sexual ao comportamento do imigrante, há um quê de melancolia no ótimo clímax. Afinal, uma tangerina sem caroço não é uma tangerina “de verdade”.

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