Quantos easter eggs cabem em um filme?
por Aline PereiraAs crianças de seis anos de idade e as crianças de trinta que cresceram com o nintendinho provavelmente terão reações muito parecidas assistindo Super Mario Bros. - O Filme. É praticamente impossível não passar boa parte da uma hora e meia com um pequeno sorriso no rosto, seja pelo humor genuinamente inocente da história ou pelo reconhecimento de uma infinidade de referências aos jogos que acompanharam e continuam fazendo parte do crescimento das últimas gerações. É com um espírito bem-humorado e tão acelerado quanto seus famosos karts que a dupla de encanadores mais famosa da cultura pop ganha seu longa-metragem mais interessante (até agora).
Na animação lançada em 2023, os irmãos Mario e Luigi fazem parte de uma família de descendência italiana (com muito sotaque na versão dublada, ainda bem!) e levam uma vida simples e unida no bairro do Brooklyn, em Nova York. A dupla está tentando crescer nos negócios como encanadores a domicílio, mas um acidente inesperado faz com que eles embarquem em uma aventura interdimensional, que abre – para eles e para nós – as portas para um universo mágico, vibrante, povoado por cogumelos e ameaçado pelo terrível Bowser.
O clássico chefão do Super Mario é o grande antagonista do filme e planeja se casar à força com a Princesa Peach, uma líder cheia de personalidade, adorada por seus súditos, e que acaba levando o protagonista junto com ela para salvar seu reino. Para isso, os dois precisam recrutar novos aliados, descobrir como derrotar os “minions” de Bowser e salvar Luigi, que foi capturado pelo vilão.
Ao longo das últimas décadas, assistimos a uma infinidade de animações que provaram que o gênero não se limita, de forma alguma, ao público infantil. Foram muitas as obras – das produções da Pixar ao vencedor do Oscar Pinóquio de Guillermo Del Toro – que exploraram camadas profundas e temas delicados. Para as crianças, ficam as mensagens mais diretas e o visual chamativo, para os adultos, reflexões complexas sobre saúde mental, luto, família, entre diversas outras. Tudo isso para dizer que o público-alvo é uma questão que vale ser pontuada em Super Mario - O Filme. Para quem esse filme é feito?
Com um histórico tão longo na vida de uma legião de fãs desde a década de 1980 (quando ainda nem se chamava Super Mario), a franquia da Nintendo certamente entrou em uma esfera intocável na memória de muita gente, o que pode frustrar o público mais velho no que diz respeito à “complexidade” da história. Neste filme, tudo é muito, muito simples – longe de animações mais ou menos da mesma época (como Red - Crescer é Uma Fera, Encanto ou Luca), Super Mario Bros. navega muito mais na superfície.
Temos uma trama puramente infantil (sem nenhum demérito), em que os conflitos se resolvem rapidamente e de forma muito direta. Aqui, quase nada se comunica tão especificamente com o público adulto geral que não tenha muito conhecimento sobre o histórico do personagem. Não há muitas piadas mais “maduras” e nem grande profundidade nos temas abordados. Isso pode ser um problema para quem chega ao longa com a expectativa de encontrar o mesmo humor das animações citadas acima, mas a sensação é de que Super Mario sabe exatamente com quem quer falar e encontra boas ferramentas para isso.
Enquanto o visual hipnotizante e os personagens carismáticos devem dar conta sem dificuldade do público infantil, a aposta da Nintendo e do estúdio Illumination (o mesmo de Minions) para ganhar o coração dos adultos é o disparo infinito de referências nostálgicas. A lista de jogos do Super Mario ao longo dos anos conta com dezenas de títulos e praticamente todos eles estão referenciados no filme. Todos os sons, trilhas musicais, falas, movimentos e recursos clássicos dos jogos estão lá. É difícil de se lembrar de qualquer aspecto da “mitologia” dos games que tenha sido deixada de fora.
Quem cresceu com proximidade aos jogos (ainda que só os mais antigos) vai sentir o calor da nostalgia no coração. Da primeira à última cena, Super Mario Bros. - O Filme traz uma quantidade gigantesca de informações visuais para alimentar toda a nossa familiaridade com a franquia. Piscou, perdeu. Com uma checklist tão grande de referências, alguns momentos acabam passando rápido demais, mas evocam uma memória afetiva tão forte que você provavelmente só vai pensar nos “detalhes” depois de assistir – enquanto a história está rolando, a gente se deixa levar mesmo.
Super Mario Bros. - O Filme chegou em um momento em que as conversas sobre adaptações de videogames entraram em alta. No mesmo ano em que o longa estreou nos cinemas, a produção da série baseada no jogo The Last of Us feita pela HBO elevou o nível da discussão ao completar a difícil missão de manter sua história interessante tanto para quem já a conhecia (agora, sem o controle nas mãos), quanto para quem estava tendo o primeiro contato naquele momento. Esse equilíbrio de pratos parece ser ainda um grande desafio para adaptações – e mesmo sendo contido demais, o filme do Super Mario está longe de ter falhado nesse sentido.
Não há dúvidas de que o espírito do game está bem representado no filme e a leveza (no sentido da diversão sem compromisso) é parte inerente e importante disso. Bowser, Toad e Donkey Kong, por exemplo, têm personalidades encantadoras e que, mesmo nas pequenas subversões, se encaixam perfeitamente no mundo apresentado. A franquia de jogos que conquistou milhões de fãs ao longo dos anos tem a objetividade como um de seus pilares: pegar as moedas e encontrar a princesa. Em seu filme, Mario, Peach e Luigi nos fazem a mesma proposta e nos convidam a voltar, mais uma vez, aos tempos mais simples.