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    Michelle e Obama
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Michelle e Obama

    Negritude master

    por Taiani Mendes

    Casal mais poderoso do mundo até janeiro, quando Donald Trump assume a presidência dos Estados Unidos da América, os Obamas são os Kennedys do nosso tempo, tanto em termos de carisma quanto de exposição midiática. Entretanto, enquanto o relacionamento do casal 20 do início da década de 1960 era manchado por puladas de cerca nada discretas do Mr. President, a história de Michelle e Barack é tão bela e aparentemente perfeita que foi capaz de gerar um longa romântico. Michelle e Obama narra com graça o nascer do amor entre os dois advogados e acerta principalmente por fazer questão de destacar que eles não formam apenas um par modelo e sim um par negro modelo. A questão racial, muito importante nas vitórias políticas de Barack Hussein, é fundamental no longa de Richard Tanne desde os diálogos iniciais até o fim dos ensolarados quase 90 minutos de trama, o que dá à obra uma valor muito maior do que o de mero documento de eternização em forma de arte do pioneiro chefe de Estado.

    Michelle (Tessa Thompson), aqui Meesh, se recusa a encarar o passeio ao lado do jovem estagiário Barack (Parker Sawyers) como encontro romântico por medo de perder tudo o que conquistou arduamente na empresa em que trabalha. Em desvantagem dupla por ser mulher e negra, a advogada que fala francês e cresceu vendo programas televisivos "de brancos", mas também é capaz de sair dançando como se não houvesse amanhã ao ouvir um tambor, teme ser julgada por sair com o único colega de trabalho afro-americano. Filho de uma estadunidense com um queniano, Bar, por sua vez, enfrenta seus dilemas por ser mestiço e tem um histórico de relacionamentos amorosos predominantemente interraciais – o que é explorado em outro longa sobre a juventude do político, Barry. Tendo como "apostilas" a arte visual de Ernie Barnes, a música de Stevie Wonder, a poesia de Gwendolyn Brooks e o cinema de Spike Lee, eles trocam confidências, ensinamentos, farpas e compreendem a responsabilidade e o poder que têm - à parte as confusões e incertezas típicas da idade.

    Apesar do rico reforço cultural, o "bate-bola" de perguntas e respostas que movimenta a narrativa e apresenta os personagens num primeiro momento soa duro, sem a fluência das conversas de Antes do Amanhecer, por exemplo, óbvia fonte de inspiração da produção. Estamos em 1989 e o característico estilo do cinema da época dá o tom das sequências iniciais na trilha sonora, nos créditos e na recriação de alguns planos clássicos. A abertura promete diversão, mas o roteiro prefere o drama à comédia e apenas discretos sorrisos de encantamento saem com facilidade no decorrer da história, afinal não há como resistir ao charme afiado do jovem Obama.

    "Copiado" de maneira impressionante por Parker Sawyers, o futuro presidente dos Estados Unidos é apresentado como o carisma em pessoa, rei da persuasão e muito esperto, o que ocasionalmente o faz arrogante. A relação complicada com o pai surge inserida de maneira simplificada, como cota "nem tudo são flores",  pois o personagem marca mesmo é exibindo seu talento principal: a oratória. Num discurso nota dez, Obama vai da motivação comunitária ao mea-culpa direcionado exclusivamente para a amada, dedicando espaço ainda para uma frase de efeito prima do yes, we can – "eles dizem não, nós dizemos continuar em ação" – e uma defesa apaixonada do criticado primeiro prefeito negro de Chicago, Harold Washington, em que coloca a burocracia do país no papel de grande vilã. A fala, aliás, se encaixa perfeitamente - e nada sutilmente - como uma justificativa do próprio governo Obama, hoje classificado como decepcionante.

    Também produtora do filme, Tessa Thompson não tem a vantagem da semelhança física com a retratada e demora um pouco a convencer, mas no fim das contas evoca com classe a primeira-dama que conhecemos e com habilidade impede que as implicâncias da personagem descambem para a chatice ou gerem antipatia.

    Feliz na opção pelo discurso de valorização da raça negra e na própria escolha do recorte temporal, o estreante Richard Tanne peca na fotografia pelo uso excessivo da profundidade de campo reduzida, o que basicamente deixa apenas Michelle e Obama em foco durante boa parte do filme, destacados literalmente. Essa opção radical, além de cansativa para os olhos, é redundante e só serve para causar estranhamento. Ignorado esse amadorismo inseguro e esquecidas algumas situações forçadas, Michelle e Obama revela-se um surpreendente acerto político recheado de discussões raciais e embebido em romance, capaz de alimentar corações e mentes (democratas).

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    Comentários

    • Rafael Brito
      Uma correção tardia da crítica: quem fez o papel da Michelle foi Tika Sumpter, e não Tessa Thompson, como citado no segundo e no penúltimo parágrafo.
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