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    Histórias Assustadoras para Contar no Escuro
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

    Susto acanhado

    por Sarah Lyra

    A crítica abaixo contém spoilers.

    Histórias Assustadoras para Contar no Escuro parte de uma premissa clássica nos filmes de terror: uma espécie de assombração é despertada em um casarão abandonado, depois de adolescentes, inicialmente céticos quanto aos perigos propagados por uma famosa lenda, explorarem as ruínas em busca de diversão no Halloween. Irritado, o espírito adentra uma jornada pautada por desejos de vingança e um senso de encerramento para questões mal resolvidas do passado. Tudo isso enquanto persegue todos os personagens envolvidos na situação inicial que o despertou, até que uma investigação para entender a história por trás da entidade se torna a única maneira de se salvar.

    Não há nada de errado em fazer um filme a partir de um conceito já consolidado no cinema, por mais popular que ele seja. O diretor André Øvredal está ciente disso, assim como da necessidade de ir além e oferecer ao público um diferencial que torne sua produção única. Com isso em mente, ele investe em um cenário que mescla a trajetória de adolescentes tentando sobreviver ao high school americano, e uma celebração de Halloween na pequena cidade de Mill Valley, perpassando temas como bullying, sexismo, dramas familiares e até mesmo xenofobia, o que evidencia não só a pretensão do longa em criar uma marca própria, como de se mostrar inserido nas problematizações sociais atuais. Por mais bem intencionado que seja, porém, uma pincelada em temas complexos, apenas para se apresentar como contemporâneo — o que seria ainda mais interessante pelo fato do filme se passar em 1968 —, não é o suficiente para dar profundidade à trama. O que inicialmente era uma oportunidade, rapidamente se transforma em oportunismo.

    Os problemas do roteiro — assinado por Kevin HagemanDan Hageman e Guillermo del Toro, baseado no livro homônimo de Alvin Schwartz — ficam evidentes na construção dos personagens, principalmente Ramón Morales (Michael Garza), um imigrante mexicano que vive de maneira discreta e misteriosa na região, até se unir à Stella (Zoe Margaret Colletti), Auggie (Gabriel Rush) e Chuck (Austin Zajur) na noite em que os desaparecimentos passam a acontecer, levantando nas autoridades suspeitas de que o jovem esteja envolvido. A partir daí, Ramón hesita em ajudar os novos amigos, com receio de que as consequências sejam mais severas para ele do que para os outros — um medo certamente compreensível. As lacunas surgem quando os realizadores abrem mão de explorar as camadas do garoto e optam por fazer referências às suas origens apenas no intuito de criar obstáculos rasos na trama, como ao usá-lo para eliminar a possibilidade do grupo pedir ajuda à polícia, já que "ninguém acreditaria na palavra de um estrangeiro".

    Mesmo com dificuldades em seu desenvolvimento, Histórias Assustadoras para Contar no Escuro apresenta um primeiro ato consistente, especialmente ao subverter as expectativas do espectador ao provocar alguns sustos a partir da tensão entre dois grupos rivais: o de Stella e seus amigos contra o dos populares atletas da escola, liderado por Tommy (Austin Abrams). Essa mesma iniciativa também demonstra um potencial, mesmo que superficial, de relacionar as marcas psicológicas do bullying com aquelas causadas por uma possível força sobrenatural. Assim, quando alguns momentos parecem propícios para a primeira ação do espírito de Sarah, Øvredal nos surpreende com um tom ameaçador gerado pela crueldade dos próprios humanos.

    Também pouco explorado é o abandono de Stella por parte de sua mãe, que, além de gerar vários traumas na garota, faz com que ela desista do sonho de ser escritora em uma cidade grande por medo de magoar o pai. Até mesmo a história de Sarah, que pretende ser um dos enfoques do roteiro, é revelada de maneira superficial e apressada, no último ato. O que inicialmente parecia ser uma forte identificação entre as duas personagens, ainda mais se levado em conta o amor em comum pela escrita, não recebe a atenção necessária para criar um elo ou causar algum tipo de empatia pela injustiça sofrida por Sarah, que foi torturada e trancada pela própria família, na tentativa de impedir a revelação de um grande segredo. Consequentemente, o desfecho, apoiado fortemente na redenção da entidade, se torna pouco impactante. Além disso, a iniciativa dos personagens de reproduzir a história de Sarah em texto, para mostrar ao mundo o que realmente aconteceu e, ao mesmo tempo, se salvar, é bastante familiar, já que O Chamado parte da mesma descoberta para evitar a morte de sua protagonista.

    Esteticamente, o longa sai timidamente da zona de conforto ao apostar em duas timelines entrelaçadas, principalmente nas cenas finais, contrastadas pela ausência de iluminação nas ruínas com as cores saturadas da época em que a casa era ambientada pela família Bellows, reforçando a oscilação de Øvredal entre apresentar ideias inovadoras e manter alguns clichês previamente aprovados pelo público em outras produções. Deixando uma brecha clara para possíveis continuações, Histórias Assustadoras se ofusca diante das pretensões comerciais, de um nome respeitado na lista de produtores e do sucesso dos contos originais de Schwartz.

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