"A Libertação", de Lee Daniels, é uma tentativa frustrada de combinar o drama familiar com o terror sobrenatural, resultando em um filme pouco convincente e desinteressante. O longa ecoa muitos elementos de Preciosa, outro trabalho do diretor, com uma estética semelhante: uma fotografia soturna e opressiva, personagens marcados por abusos e sofrimento, e uma narrativa que insiste em explorar o desconforto e a claustrofobia. No entanto, enquanto Preciosa se destacava pela profundidade emocional e autenticidade de seus personagens, A Libertação não consegue atingir o mesmo impacto, tropeçando em seus próprios excessos e escolhas narrativas.
Inspirado por uma história real de 2014, o filme acompanha Ebony (Andra Day), que se muda com sua mãe Alberta (Glenn Close) e seus três filhos para uma nova casa, apenas para enfrentar uma série de eventos inexplicáveis que envolvem suspeitas de possessão demoníaca. Embora o ponto de partida seja promissor, o roteiro simplifica a abordagem do tema religioso, reduzindo-o a uma metáfora básica e repetitiva: "sem Deus, o demônio entra; com Deus, ele vai embora". A tentativa de introduzir elementos de terror e exorcismo é falha, entregando cenas genéricas, previsíveis e pouco assustadoras. A maquiagem e os efeitos visuais são especialmente desastrosos, parecendo algo saído diretamente dos anos 80, com toques involuntariamente cômicos que remetem ao clipe de Thriller, de Michael Jackson.
O elenco, embora talentoso, está preso a personagens mal desenvolvidos. Andra Day, como Ebony, passa o filme inteiro gritando, o que torna a personagem irritante e dificulta qualquer empatia do público. Glenn Close, apesar de ser uma atriz excepcional, sofre com uma caracterização grotesca e uma personagem ingrata. Uma de suas cenas mais criticadas, em que aparece com dentes que lembram vampiros, expõe a fragilidade do design de produção e do tom inconsistente da obra. Mo'Nique, vencedora do Oscar por Preciosa, é desperdiçada como uma assistente social cujas aparições são pouco memoráveis.
No geral, A Libertação é um filme longo, cansativo e que parece se perder entre o drama e o horror, sem nunca entregar plenamente nenhum dos dois. A falta de sutileza no tratamento dos temas religiosos, as escolhas visuais equivocadas e o roteiro arrastado tornam esta produção uma experiência frustrante, especialmente considerando o histórico de Daniels em explorar histórias intensas e humanas com mais sensibilidade.