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    Exorcismos e Demônios
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Exorcismos e Demônios

    Ruim, genérico, apelativo — como o título

    por Rodrigo Torres

    Um programa televisivo anuncia que um padre foi preso, acusado pelo homicídio de uma freira em uma sessão de exorcismo mal-sucedida no interior da Romênia. Ambiciosa e cética, a jornalista Nicole (Sophie Cookson) pede que o editor-chefe Philip (Jeff Rawle) viabilize sua partida de Nova York para o centro-leste europeu a fim de desvendar a verdade sobre o caso. Tio de Nicole, o experiente Philip se opõe à arriscada matéria — mas logo cede, repentina e incompreensivelmente, lembrando a memória da mãe falecida da jovem repórter ao se despedir dela com um sorriso afetuoso.

    Exorcismos e Demônios é, portanto, um filme direto e simplório desde a introdução. A débil construção dramatúrgica da discussão de pauta descrita é síntese de toda a investigação de Nicole: forasteira intrometida em uma comuna romena minúscula e ortodoxa, ela enfrentará resistências raapidamente desfeitas, tornando sua busca tão desinteressante quanto o previsível desfecho que tem. A fragilidade desses diálogos tem como principal (e pior) consequência a unidimensionalidade da protagonista, representação tola de uma ateia radical, antipática e sem (bons) argumentos. Quase uma personagem de Deus Não Está Morto.

    Essa combinação de descaso e más escolhas é tudo que os irmãos gêmeos Carey W. e Chad Hayes não fazem no ótimo roteiro de Invocação do Mal e até mesmo do mediano A Casa de Cera. E não só na concepção de personagens, como de todo o encadeamento de uma história em duas partes muito enfadonha: a primeira se baseia na investigação e tem como fórmula os encontros de Nicole com habitantes do vilarejo e flashbacks que servem como muletas e forma de inflar o longa com cenas de exorcismo. A segunda se inicia depois que a protagonista soluciona a causa de possessão mais óbvia da história do cinema e passa a ser atormentada pelo demônio Agares — ponto em que a responsabilidade pela baixa qualidade do longa-metragem recai sobre Xavier Gens.

    Cineasta medíocre que tem como melhor filme Hitman: Agente 47 (do qual foi afastado na parte final de produção), Xavier Gens é zero inspiração em Exorcismos e Demônios. O cenário rural de Tanacu e suas construções medievais são convidativas ao gênero, inclusive remontando aos espaços do excelente A Bruxa, mas o cineasta francês é incapaz de evocar atmosfera como Robert Eggers. Pelo contrário, Gens se conforma com o roteiro fajuto dos Irmãos Hayes e resume o horror do filme a cenas de susto calcadas nos piores clichês, como cortes rápidos para demônios em close e aumento repentino do som para realçar gritos e latidos. Nem mesmo honrar o título original (The Crucifixion) ele consegue, sem que um plano de crucificação seja minimamente perturbador ou visualmente memorável, como se vê até nos pares mais genéricos.

    Assim, a coerência de Exorcismos e Demônios reside em sua total falta de ambição e esmero, do início ao fim, e como prenuncia esse título brasileiro. Um filme que apela ao explorar o legado de O Exorcista sem propor qualquer frescor; em sua mensagem de conversão religiosa e condenação do ateísmo (explicitamente referido como fraqueza espiritual); e em se apresentar, de forma manipulativa e sem contrapartida, como uma obra baseada em fatos reais — não, a causa da morte da Freira Maricica Irina Cornici não foi possessão demoníaca — com o intuito de atrair o público incauto sem se prestar ao seu papel fundamental: a boa representação do caso, de uma história.

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