Una A pergunta sobre a possibilidade de existência de um amor genuíno e não abusivo é o que move a trama desse filme, dentre outras muitas questões tangenciais, não menos desconcertantes. O encontro consensual (se é que se pode assim nominar) de um homem adulto e de uma pré adolescente tem necessariamente um caráter de perversidade? Um parênteses: e quando este tipo de montagem ocorria no passado, em que meninas de treze anos eram compulsoriamente casadas com homens mais velhos por suas famílias? Tratava-se de algo sancionado no social, visto como normal. Voltando a Una, vê-se na tela os efeitos deste "encontro catástrofe" não somente na subjetividade desgovernada da personagem abusada, mas tb na vida do suposto abusador. O filme, sem dúvida, desperta um desconforto e muitas interrogações interessantes ao trazer em uma perspectiva diferente, com uma suspensão do julgamento moral, o tema da pedofilia.
Garota de 13 anos é abusada pelo vizinho e amigo do pai. O caso vai a julgamento e ela fica estigmatizada, mas ele fica 4 anos na cadeia e assume nova identidade. Ela consegue encontrá-lo e juntos reviverem o que aconteceu.
O que realmente me impressionou no filme foi a forma com a qual a história é conduzida, justamente pautada na neutralidade imposta pelo diretor, fazendo com o que o espectador tome pra si o julgamento que achar necessário diante de um tema extremamente complexo. UNA nos faz refletir, sobre um assunto tratado como imoral dentro da sociedade, entretanto explora diversos significados que o abuso infantil, o estupro, a pedofilia podem conter, nos levando a uma indagação até um tanto polemica; Pode haver amor, mesmo quando há violência? Certamente este é o tema central do filme, perceptível em diversas cenas. Enfim, um filme valoroso e que vale a pena ser assistido.
Praticamente uma obra-prima. Um filme além do nosso tempo. Georges Bataille, em seu livro "O Erotismo" (um dos 5 melhores q li na vida!), dizia q a cada momento da cultura a sociedade elege uma "figura dilacerante", uma aberração, q seria impossível evitar a criação desta figura do pária social, o q enoja a todos. Atualmente, essa figura seria o pedófilo. "Una" nos apresenta o abusador e a vítima de forma antimaniqueísta, desconstruindo a figura aberrante, viabilizando nossa aproximação sem ternura ou raiva prévias. Brilhante. (Ler mais no post "Pedofilia, aberração em 'Una'?", no blog "psicanalisenocinema.com".)
Este filme lhe trará a experiência única de um diálogo entre adultos sobre quando um deles abusou o outro quando este era apenas um adolescente, e os resultados desse trauma. Porém, mais como uma sombra do que uma figura real, a personagem de Rooney Mara, Una, é genérica e parece existir em função de Ray (Ben Mendelsohn), que mudou de nome e tem uma família, e que avalia seu passado com Una através de flashbacks constantes. A direção do estreante Benedict Andrews possui a vantagem de não tornar a experiência demasiada teatral. Baseada na peça de David Harrower (que também escreveu o roteiro), há poucos cenários no filme, mas muita inspiração em suas transições, nos cortes secos, e na capacidade de apelar para nossa imaginação e resumir sequências inteiras como o ápice de uma festa, além de manter o ritmo através de uma montagem ritmada, que acompanha uma trilha sonora não-invasiva que está aí apenas para contar o tempo, e como ele transforma as pessoas. Mas não nesse caso. O filme é mais sobre como experiências dolorosas do passado transformam nosso futuro em algo sem esperança. Nada mais longe da verdade, e nada mais covarde.
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