Os Desertores.
Filmes que desenvolvem uma narrativa inspirada em fatos reais podem ser bem sucedidos dependendo, principalmente, da abordagem realista e o tom de proximidade que se tem como a obra de origem. Este novo filme do diretor Gary Ross acerta em diversos pontos por se preocupar com seus personagens e o drama que vivem socialmente.
Ambientado durante a guerra civil americana, acompanhamos o protagonista Newton Knight vivido pelo ator Matthew McConaughey, ele é um simples ajudante de enfermeiro, um homem cujas origens de fazendeiro não oferecem muito à sangrenta batalha que visa separar o sul do norte dos Estados Unidos. Após um ocorrido em que ele perde um membro da família, Knight decide desertar, pois acredita não ter nada a oferece em uma disputa da qual não faz parte de seus interesses, voltando para sua terra, o condado de Jones.
Caçado como bandido por deixar a funções militares, o protagonista se refugia e forma um grupo de rebeldes que se opõem radicalmente a Confederação, principalmente pelas decisões equivocadas do governo que favorecem inescrupulosamente os ricos. Durante sua ascensão, o grupo se destaca pela grande aceitação social que não somente desafia as "leis" impostas a seu povo, mas também por respeitar os civis independente de credo, cor ou condição financeira.
Um dos grandes acertos do roteiro de Gary Ross é justamente apostar na simplicidade das decisões de Knight, pois mesmo ao mostrar não ser um intelectual, ele entende plenamente a importância da justiça e do senso de honestidade. Isso se contrasta bem com a ótima interpretação de McConaughey, pois ele compila um personagem que sofre diariamente por ser pequeno ante uma soberania tão grandiosa da guerra e seus interessados diretos. A ausência de frases de efeito ou respostas recheadas de profundidade ideológica garante ao protagonista uma presença ainda mais imponente, pois mostra-o cada vez mais próximo de seus "defendidos".
A ambientação no século 19 também é destacável, contendo figurino, armas, objetos e uma grande gama de detalhes que dá um ar de veracidade bem apropriado, certamente resultado do orçamento razoavelmente elevado. O desenvolvimento da narrativa sempre observando esses detalhes facilita ao espectador crer no que se vê como baseado em fatos reais.
Por se tratar de uma história verídica, chega a surpreender como falsas justificativas governamentais ao falar em democracia se perpetua até a atualidade. Embora a violência daquele período tenha se atenuado, a perspectiva social pode não ter evoluído tanto quanto se esperava, principalmente no que tange a participação negra na sociedade.
UM ESTADO DE LIBERDADE ilustra como se faz necessário que alguém tome a iniciativa para liderar pessoas que descordam de seus agentes governamentais. É uma produção com o capricho devido para mostrar como o respeito muitas vezes só é alcançado com dedicação e crença plena, ainda que o sucesso seja alcançado com perdas e sofrimento.