Ciência e fé
por Lucas SalgadoApós escrever o roteiro de obras bem interessantes como Extermínio, Não Me Abandone Jamais e Dredd, Alex Garland fez sua estreia como diretor no final de 2014, com a ótima ficção Ex_Machina: Instinto Artificial. Estrelado por Domhnall Gleeson, Alicia Vikander e Oscar Isaac, o longa é uma obra extraordinária e original, com poucos personagens, um cenário restrito e muita reflexão sobre avança da tecnologia e humanidade. Agora, pouco mais de três anos depois, o cineasta chega com seu segundo trabalho como diretor: Aniquilação.
Assim como no projeto anterior, Garland usa o gênero da ficção científica para discutir temas sérios, como criação, evolução, ciência, religião e, mais uma vez, humanidade. Contando com mais dinheiro, o cineasta aproveitou para desenvolver uma produção mais ousada, sem tantas limitações. Foram US$ 40 milhões de orçamento, contra US$ 15 milhões de Ex_Machina.
Produzido pela Paramount, o longa foi idealizado para os cinemas, contando com tomadas amplas e muitos efeitos especiais. O péssimo resultado de A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell nas bilheterias, no entanto, fiz com que o estúdio tivesse receio em lançar a ficção. O resultado acabou sendo a venda para a Netflix, que incomodou o próprio diretor.
Por mais que seja bom saber que o filme encontrou uma casa, é realmente triste que o espectador seja privado dessa experiência na tela grande. São inúmeras cenas claramente pensadas para o cinema, um longa realmente ousado, com forte impacto visual. Ainda que prejudicada, a experiência visual ainda deve ser valorizada, uma vez que traz efeitos de destaque e cenas bem originais.
Natalie Portman vive Lena, um bióloga conceituada que tem passado como militar. Um ano após o desaparecimento do marido (Oscar Isaac), ela se junta a uma missão na misteriosa Área X, que abriga um misterioso fenômeno que se expande pela costa americana. Um grupo de cinco cientistas e especialistas (Jennifer Jason Leigh, Gina Rodriguez, Tessa Thompson e Tuva Novotny além de Portman) tentam entender o que acontece, se é algo alienígena, religioso etc. Elas se deparam com um cenário que é ao mesmo tempo encantador e ameaçador, com claras amostras de mutação.
Aniquilação é uma obra completa e sempre interessante. O elenco é talentoso e os personagens complexos, principalmente no que diz respeito a de Natalie Portman. Alex Garland se mostra um diretor e roteirista realmente especial. Pena que o público não tem tido muita chance de perceber isso. Ex_Machina nem teve lançamento comercial no Brasil, e agora o novo longa chega direto na Netflix.
Adaptação de livro homônimo (e complexo) de Jeff VanderMeer, o filme conseguiu transportar bem as páginas para as telas, o que era um desafio pra lá de complicado. Destaca-se ainda a fotografia de Rob Hardy e a trilha sonora de Geoff Barrow e Ben Salisbury.
A montagem de Barney Pilling (O Grande Hotel Budapeste) é problemática, principalmente pelo uso desnecessário de cartela. Mas, pelo menos, não compromete no que diz respeito ao ritmo da produção, o que é positivo para um filme de 115 minutos.
O longa deve ser assistido de mente aberta. Não oferece muitas respostas e deixa muitas perguntas. Ao mesmo tempo, abre um espaço para reflexão sobre o homem e sobre a vida. Isso tudo conseguindo contar uma história de ficção bem fechadinha.