Um estudo de personagem com o mesmo primor de Bronson (2008), um desenvolvimento de enredo tão intenso quanto O Expresso da Meia-Noite (1978), uma ambientação imersiva como a do brasileiro Carandiru (2003), além de uma dureza e angústia comuns a todas estas obras, é a assinatura do retrato trazido pelo filme A Prayer Before Dawn que nos transporta à realidade de um sistema prisional carcerário ao passo que se coloca como uma experiência cinematográfica inesquecível.
A fascinação do ser humano pela vida na prisão é uma verdade incontestável. Tanto sua atração quanto suas experiências revelam-se em todos os campos da arte ao longo da história, seja na pintura (“O Pátio de prisão”, 1890, Vincent van Gogh), na música (“Diário de um detento”, 1998, Mano Brown e Jocenir), na literatura (“Prisioneiras”, 2002, Barbara Musumeci Soares, Iara Ilgenfritz da Silva) e, não menos importante, na televisão (“OZ”, 1997/2003, Tom Fontana) e no cinema.
O filme é um mergulho claustrofóbico e desesperador na vida de Billy Moore, um jovem inglês que vive no submundo das drogas e lutas de rua da Tailândia e seu inevitável encarceramento em uma das prisões mais terríveis do país. Apesar do fato de ser baseado na história de dificuldades, superação e redenção do seu protagonista, a película não nos leva a um lugar comum e cheio de clichês baratos quanto ao tema (como em Rocky, Creed, O Vencedor…). Sua filmagem em uma prisão real e utilização de ex-prisioneiros no elenco são alguns dos elementos que trazem uma realidade brutal e única à produção nos deixando com um sentimento de perigo iminente em todas as cenas.
A improvisação é utilizada em sua melhor forma neste filme. A linha daquilo que é coreografado, ensaiado ou que simplesmente aconteceu em cena é imperceptível para o expectador, que é lançado em situações perigosas sem ser levado pela mão pelo diretor para que entenda cada motivação e reação dos personagens. É a imprevisibilidade e invencibilidade da realidade que Billy se encontra que nos faz temer, ofegar, desesperar e ser movido a cada momento, pois sempre nos colocamos em seu lugar e em sua mente.
Desde a atuação visceral de Joe Cole à direção igualmente selvagem e incisiva do francês Jean-Stéphane Sauvaire, nota-se que o filme reflete uma sequência de acertos que não vieram por acaso. Alcançar esse resultado em tela é um trabalho planejado e que requer confiança e muito talento de todos envolvidos. Nada é de graça nesse filme, sua sensibilidade será posta à prova, mas todo seu esforço valerá a pena pela experiência avassaladora que é esse filme.
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