‘Quero ser Kubrick!’
por Renato HermsdorffEnquanto Gore Verbinski parece gritar “Eu quero ser Kubrick!”, o status quo – os demais produtores ou o distribuidor do filme – aparenta jogar uma pá de cal nos planos do diretor de O Chamado e Piratas do Caribe: “Menos, Verbinski. Menos”. A Cura é um potente investimento no poder – e na beleza – da imagem, mas com um desfecho fraco que subestima a inteligência do espectador.
Na história, o jovem e ambicioso executivo Lockhart (Dane DeHaan) é escalado para viajar até os Alpes Suíços com a missão de “resgatar” o CEO da companhia, em tratamento voluntário em um “Centro de Cura”. Depois de sofrer um acidente automobilístico (uma cena de tirar o fôlego, aliás), o rapaz se vê internado na mesma instituição. Incapacitado de andar, ele terá que passar seus próximos dias no spa/sanatório, construído em uma região de passado trágico e misterioso. A partir de acontecimentos sinistros, ele vai questionar a própria sanidade.
Com mais gente “enclausurada” no luxuoso hospital de A Cura do que no chique hotel de O Iluminado, o sentimento de isolamento mental de Lockhart guarda paralelos com o da família de Jack Torrance (Jack Nicholson) no clássico de Stanley Kubrick de 1980. Mas é a similaridade estética o que mais chama a atenção. Verbinski lapida a imagem – milimetricamente montada – com afinco, abusando (no bom sentido) de enquadramentos simétricos e de uma caprichada fotografia opaca, quase hospitalar, que resulta não apenas agradável aos olhos, como também se mostra condizente com o cenário da trama. É um retrato onírico, pontuado de simbolismos.
Isso acontece principalmente durante os dois primeiros terços das 2h30min de duração total do filme. Nesse período, o roteiro de Justin Haythe (Foi Apenas um Sonho) planta toda espécie de pistas para o espectador. O suspense está no ar. E haja lacunas, tanto das boas (o tipo que estimula a imaginação do público), quanto das ruins (aquelas não fazem sentido e assim continuarão até o fim da projeção).
Mas, se o desenvolvimento é confuso (o filme se perde), o problema maior é o trecho final, explicado demais. Gore (os demais produtores? O distribuidor do filme?) trata o espectador como se ele não fosse capaz de, por si só, entender as relações entre os personagens. E o investimento psicológico do enredo de até então cede lugar a um terror explícito quase bobo.
Fosse A Cure For Wellness (no original) uma produção alardeada pela cultura pop, provavelmente estaríamos discutindo o responsável pelo controle criativo do último corte – assim como aconteceu com o último Quarteto Fantástico. Não sendo, jamais saberemos a quem culpar pelo final de uma produção tão promissora.