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    Sr. Pig
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Sr. Pig

    Viagem de reencontros

    por Bruno Carmelo

    Esta coprodução entre os Estados Unidos e o México pode ser analisada de maneiras muito diferentes. Por um lado, trata-se de um road movie clássico, com o pai solitário (Danny Glover) sendo obrigado a reatar laços com a filha distante (Maya Rudolph) em sua travessia dos Estados Unidos ao México. A estrutura é previsível, assim como as reviravoltas do subgênero (o carro quebrado, as pessoas gentis e/ou perigosas encontradas no caminho etc.). Ou seja, a estrutura geral pode não despertar grande entusiasmo.

    Por outro lado, o diretor e roteirista Diego Luna efetua escolhas interessantes de representatividade. O filme decide se focar na América dos excluídos, com protagonistas negros em dificuldade financeira, se opondo aos métodos capitalistas dos novos fazendeiros. O criador de porcos Ambrose se recusa a vender Howard, seu principal porco, quando descobre o mau tratamento que o animal vai receber. O ponto de vista é sempre solidário aos negros, pobres e mexicanos – em especial estes últimos, distantes do fetiche da pobreza e da criminalidade.

    Assim, Mr. Pig constitui uma obra repleta de ternura. Danny Glover merecia há anos um projeto deste porte, que concentra atenção em seus gestos e seu corpo durante 90% das cenas. O ator se sai muito bem no papel do pai turrão e alcoólatra, buscando se redimir dos erros no passado. Maya Rudolph, tão conhecida pelo humor, desempenha com segurança um papel dramático exigente. A interação entre ambos é excelente, por explorar ao máximo o talento dos dois atores no cruzamento entre drama e comédia.

    Na direção, Diego Luna efetua o mínimo necessário: ele se concentra no rosto em momentos mais emotivos, usa planos de conjunto quando pai e filha se encontra, investe nos grandes planos de rodovias mexicanas para se contrapor ao imaginário das praias exóticas. É uma cartilha eficiente, porém acadêmica. O cineasta possui um bom olho para extrair o humor nas imagens, algo certamente facilitado pela presença de um porco imenso dentro de um carro de proporções modestas. As cenas de Ambrose e Eunice tendo que dormir na mesma cama de um motel também evidenciam o talento da direção para a comicidade agridoce.

    Rumo à conclusão, o filme começa a temperar o melodrama com boas escolhas estéticas: um momento triste é atenuado pela retirada do som direto, e outro que sugere perigo aos personagens se torna mais singelo com o protagonista de costas. Existe um equilíbrio emocional e narrativo neste projeto comovente, mas contido demais. Mr. Pig pode funcionar como uma boa e importante conjunção entre cinema de arte e cinema popular. Ao diretor Diego Luna, resta esperar que estenda o olhar humanista a projetos de maior ambição estética.

    Filme visto na 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2016.

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