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    Insubordinados
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Insubordinados

    Obra em formação

    por Francisco Russo

    Por mais que tenha sido dirigido por Edu Felistoque, muito da concepção de Insubordinados pode ser creditada a Sílvia Lourenço. Afinal de contas, é ela não apenas a atriz principal, mas também a roteirista e a responsável pela supervisão da edição – três pilares básicos de qualquer longa-metragem, mas que neste projeto em específico têm influência decisiva.

    Primeiro episódio da autointitulada Trilogia da Vida Real, o filme acompanha o dia a dia de Janete, uma mulher presa a um hospital devido aos cuidados de seu pai, inconsciente. Para ocupar o tempo ocioso, ela passa a escrever seu primeiro romance policial, inspirada por situações do passado. O filme basicamente se divide entre estas duas narrativas, hospital e livro, com breves citações ao passado da protagonista. Ambas as tramas são incompletas, cheias de elipses envolvendo seus personagens principais, deixadas propositalmente para despertar a curiosidade do espectador. Os atores que surgem na realidade estão também na versão literária, travestidos em outra personalidade. Há uma dubiedade permanente, que dialoga ainda com a metalinguagem existente entre autora e obra e a presença quase constante do preto e branco na fotografia, de forma ressaltar o mundo cinza ali existente.

    No fim das contas, as angústias de Janete são representadas não propriamente por alguma das histórias retratadas, mas pelo que ambas simbolizam: uma obra em formação. Por estar em pleno desenvolvimento, o livro ainda traz informações ausentes e um ritmo inconstante, seja no contar de sua trama base ou mesmo ao revelar o passado de seus personagens. Do outro lado, a vida de Janete está estagnada ao simplesmente aguardar que algo aconteça com o pai. Em ambos os casos há algo a ser feito e não é o filme que dará esta resposta, já que ele mesmo é “incompleto”. Entre aspas porque a proposta final do diretor e também da atriz/roteirista/quase-editora não é apresentar uma história mastigada ao espectador, mas entregar um estado de espírito daquele momento que se materializa através das lacunas e paralisias existentes em ambas as narrativas.

    Por mais que, conceitualmente, Insubordinados seja um filme instigante, ele perde um pouco a atração devido a um detalhe da produção: todas as sequências que ilustram o livro, na verdade, foram rodadas anos antes para uma série de TV que não vingou. Ou seja, tal material foi recauchutado para que pudesse ser inserido no longa-metragem, o que de certa forma minimiza o lado criativo da produção como um todo. Ainda assim, é um filme interessante de ser visto. Não apenas pela participação de Sílvia Lourenço, uma das melhores (e mais subestimadas) atrizes da atual geração, mas pela própria coragem ao sair do lugar comum.

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