Elle, filme dirigido por Paul Verhoeven, é um suspense que é construído totalmente em cima da sua personagem principal, Michèle Leblanc (Isabelle Huppert, em uma performance indicada ao Oscar 2017 de Melhor Atriz). Na realidade, o roteiro escrito por David Birke se apoia nas idiossincrasias dessa personagem. A primeira cena da obra já é bastante clara sobre como é a postura de Michèle: após ser violentada em sua própria casa, ela continua sua vida como se nada tivesse acontecido.
Na medida em que o filme vai se desenrolando, vamos compreendendo o por quê de Michèle agir da maneira que ela age. Além de gostar de flertar com o perigo e com o mistério, a protagonista de Elle é alguém que não possui qualquer tipo de escrúpulo. Se precisar renegar o pai criminoso, assim ela o fará. Se precisar trair a melhor amiga, assim ela o fará. Se precisar ser cruel com a namorada de seu ex-marido, assim ela o fará. Se precisar ser dura com o filho, assim ela o fará. Se precisar humilhar a mãe, assim ela o fará. Se precisar dar em cima do marido da vizinha, assim ela o fará.
Por isso mesmo, o aspecto que chama mais a atenção em Elle, além do fato da maneira como a personagem principal nos é apresentada pelo roteiro e pelo diretor Paul Verhoeven (impossível sentir qualquer tipo de empatia ou de compaixão por Michèle), é a maneira fria, quase calculista com que Isabelle Huppert apresenta esse ser para nós, da plateia. Durante boa parte do filme, você vai se surpreender com Michèle e com a falta de limites que ela possui. Mas, principalmente, o que vai te deixar mais com a pulga atrás da orelha, é o fato de ela nunca se vitimizar e de saber dar a volta por cima, talvez, mais triunfante ainda do que a maneira em que ela se encontrava.