Dirigido por Philippe Le Guay (Pedalando com Molière), A Viagem de Meu Pai fala de assuntos difíceis como a morte e a velhice. Mesmo que opte por um caminho mais fácil, o que filme não se torna leviano por isso.
Claude Lherminier (Jean Rochefort) é um simpático, mas também desordeiro, senhor de 81 anos de idade que adora manter sua vida e seus pequenos afazeres ao redor de sua linda casa. No entanto, ele não gosta nada da companhia forçada que cerca sua vida, já que não possui total controle de suas emoções, memória ou mesmo o discernimento mais claro na hora de tomar decisões.
Sua filha, Carole (Sandrine Kiberlain), embora bastante carinhosa e afetiva, já não pode dispor de todo o tempo para os cuidados com o pai. Ela tenta a todo custo levar sua vida, tocar a empresa onde precisou substituí-lo às pressas na direção, e encontrar alguém que cuide e suporte a rebeldia do pai. Em meio a esses dramas cotidianos, Carole inicia um novo relacionamento com Thomas, enquanto o pai se contorce incomodado com questões do passado, e sofre com a ausência da filha mais nova, que não o visita há mais de dez anos.
A Viagem de Meu Pai não se impõe como um pesado drama e se equilibra muito bem com um tom de humor que não diminui a importância da história, muito menos o sofrimento dos personagens e do público.
Jean Rochefort e Sandrine Kiberlain, têm seus trabalhos em destaque no longa. Com Carole, Sandrine tem ainda mais êxito nesta posição, pois seu personagem, é o tipo de pessoa que sofre sem demonstrar e permanece num constante conflito interno. A atriz consegue encontrar o tom certo para transmitir essa tensão silenciosa. Diferente da atuação de Jean Rochefort, que pode parecer mais fácil com o engraçado e rabugento Claude. A maioria de seus movimentos e sentimentos são externos, explícitos, mas nem por isso há qualquer exagero na interpretação do ator.
O roteiro, adaptado pelo próprio diretor e Jérôme Tonnerre da peça de Florian Zeller, de início apresenta um caminho interessante: existem cortes abruptos, paralelos à história, que revelam a passagem do tempo sem que Claude tenha percebido. Um bom exemplo é a sequência em que se vê o velhinho dentro de um avião rumo à Flórida, sem saber se seria mais um devaneio.
Com o passar do tempo, porém, o uso de flashbacks se torna repetitivo e a resolução de histórias paralelas à trama principal fica abaixo da expectativa. Se Le Guay acerta nos momentos em que narra uma história com base no vazio, nos espaços em brancos deixados pela deficiência do personagem, ele perde um pouco o controle no passo seguinte, repetindo formulas básicas e pouco criativas.
A Viagem de Meu Pai trata de temas pesados, mas com uma abordagem mais leve, o que, no entanto, não causa qualquer tipo de decréscimo. A julgar por essa opção, parece bastante razoável não ter no longa nenhum tipo de julgamento sobre os personagens, o que reafirma a leveza do filme e deixa a cargo do público as possibilidade – ou não – de maior profundidade nas reflexões.
Não é um filme ousado, mas por não ser covarde, é arriscado.