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    Linda de Morrer
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Linda de Morrer

    Efeito placebo

    por Renato Hermsdorff

    Quando anunciado, o projeto de Linda de Morrer parecia se basear numa das premissas mais absurdas, mesmo para os padrões atuais das comédias nacionais, dos últimos anos: mulher descobre a cura da celulite, morre e volta do além para impedir o lançamento do produto, que tem sérios efeitos colaterais. Diante desse cenário, a julgar pelo resultado final, o... produto que a diretora Cris D'Amato (S.O.S. - Mulheres ao Mar) entrega não assusta.

    Apoiado em um elenco de nomes conhecidos da TV (Glória Pires, Susana Vieira, Stella Miranda, Vivianne Pasmanter), uma sucessão de lugares-comuns do gênero e piadas prontas, o roteiro de Carolina Castro e Marcelo Saback se fecha direitinho, a montagem é dinâmica (mas os efeitos, "tosquinhos") e o melhor: nem demora tanto.

    Um típico projeto “de produtor”, daquele que mira o espectador certo, que não quer ter surpresas (emoções?) na hora de escolher o que assistir nos cinemas, a curta duração do longa é um aspecto que conta (e como conta) a favor de Linda de Morrer. Já que é para ser mais do mesmo, o tempo de apenas 1h15 da projeção é o suficiente para agradar quem já quer ser agradado; e não dá tempo de entediar quem entrou na sala escura por engano.

    Glória Pires é a protagonista, Paula, cirurgiã que inventa o Milagra (ba-dum-tss!), a tal pílula capaz de acabar com os furinhos da celulite. Uma mulher de sucesso, requisitada, cujo telefone celular não para de tocar um minuto. Como contraponto, temos a filha da executiva, Alice (Antonia Morais, também filha da atriz “na vida real”), estudante de fotografia, discreta e meio bicho grilo.

    Do embate entre as duas, estará a força-motora da história, que vai do clássico conflito de gerações à pieguice das mensagens edificantes, das quais o filme abusa, como um grande manual de autoajuda.

    Paula se gaba de o comprimido não ter nenhum tipo de contraindicação. Mas tem. O sócio dela, Francis (Ângelo Paes Leme) omite a informação. Ela o experimenta e, como consequência, morre. É quando volta do outro mundo para tentar convencer o psicólogo Daniel (Emílio Dantas) – que acaba de herdar a mediunidade da avó, Mãe Lina (Susana Vieira), recém-falecida – a, por sua vez, persuadir Alice a impedir o lançamento do produto.

    Com tanto “global” no elenco, a decisão de entregar papéis de destaque a dois atores não (tão) conhecidos também se revela interessante – pelo caráter “sangue novo”. A maior referência de Emílio é seu papel como Cazuza no teatro, o que, claro, só uma parcela relativamente pequena da população

    teve chances de assistir. E o ator se sai bem como o atrapalhado personagem.

    Já Antonia parece não ter tido muito trabalho em compor o seu papel, afinal, vive uma menina típica da Zona Sul (ou Barra) carioca – ou seja, bem-nascida –, hippie-chique bem-intencionada na vida – e mesmo assim, é a que se sai pior. Elogiar Gloria Pires pode ser chover no molhado, mas anos de experiência contam para (qualquer) carreira (ou, pelo menos, deveriam). Ela carrega o filme, expansiva, histriônica, do jeito que o personagem pede.

    Entre a apelação (a “piração” da empregada doméstica vivida por Priscilla Marinho – que, no entanto, é ótima atriz; ou o momento Se Eu Fosse Você de Angelo Paes Leme) e a ironia (sobretudo dos diálogos entre as personagens de Gloria Pires e Susana Vieira), Linda de Morrer funciona como um placebo. E, como cinema, a julgar pela estética televisiva, é um especial de fim de ano da Globo razoável.

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