O filme narra a jornada de uma mulher num acerto de contas com seu próprio passado: um casamento mal resolvido, a filha abandonada. A protagonista é uma personagem estranha, quase altista, presa em seu mundo particular. As sequências em que caminha pela casa vazia são frutos de um cinema imagético, onde a história é contada muito mais pela delizadeza dos movimentos do que pela simples ação.
Plasticamente, o filme tem cenas extremamente bem construídas: a direção de arte é detalhista e os objetos de cena são muito bem garimpados. Relíquias do imaginário de colecionadores - máquinas fotográficas, fliperamas, souvenirs kitchs, o dodge charger - tudo isso nos remete a um passado que ao mesmo tempo encanta e aprisiona. O banho das bonecas barbies é o ponto alto desta estética, ao mesmo tempo poética e amarga. Imagens que agradam e ao mesmo tempo incomodam.
O dono do antiquário é muito bem representado por Dalton Vigh, que encarna, como poucos, a figura metódica e cheia de toques do colecionador. De uma certa forma, ele também vive num mundo muito particular, e paga o preço deste isolamento. Vivianne Pasmanter tem um papel menor e brilha intensamente, resultado do ótimo momento profissional que atravessa. E a atriz adolescente Laura Teles rouba as cenas em que aparece, com um humor naturalista muito bem dosado.
O personagem do Rubinho é que talvez esteja um pouco deslocado: não existe química entre ele e a protagonista, o que deixa as cenas entre os dois aquém do que se espera.
O filme se resolve de uma maneira bem peculiar: ninguém se transforma, todos permanecem presos a seus próprios jogos, incapazes de interagirem com o mundo que os desafia.
Não é um filme perfeito, o roteiro tem algumas lacunas, mas é uma obra ousada, sem respostas fáceis, com um pé no cinema linear e outro na estranheza do cinema independente.