Poucos, muito poucos, infelizmente, terão a sabedoria ou a sensibilidade para escolher assistir este impactante e surpreendente filme. Um filme que provoca emoções e reações a todo instante. Eu fiquei com o "coração na mão" em muitas cenas, tal o realismo delas. Como um diretor, com cenas simples, quase sem colorido (as paredes, os prédios, as paisagens em tons desmaiados, monótonos se confundem), reforçando um cotidiano sem grandes perspectivas ou pretensões, consegue prender
a atenção fiel do expectador? Este pano de fundo foi assim colocado de propósito para não interferir
ou desviar a atenção do mais importante que é apresentar uma sucessão ininterrupta de diferentes acontecimentos, provocando emoções e reações a cada instante: surpresa, dúvidas ou concordância
com atitudes, lembranças da vida profissional com as quais me identifiquei, destaque a valores
e condutas, comportamentos e pensamentos contraditórios, pressão, muita pressão, escolhas compulsórias, o certo ou errado, o bem e o mal.
No início da trama, acontece um fato em sua classe que exige da protagonista (a professora Nadia)
uma atitude firme ao cobrar de seus alunos a honestidade. Afinal, esta é uma das muitas atitudes
que a sociedade exige de um professor: que ele próprio seja honesto (um exemplo para todos) e que
faça prevalecer a honestidade e a integridade em seu trabalho e em sua vida pessoal.
Independente deste fato, outros passam a acontecer, exigindo uma resposta imediata de Nadia. Sua
vida muda de repente e a sobrevivência própria e da família passa a ser seu foco central. Passar por
cima de tudo, permanecer firme em suas convicções ou humilhar-se, se preciso for? Um constante dilema.
Viver, lutar, sobreviver a qualquer custo, ou quase. Fazer o que for preciso, custe o que custar, porém conservando um pouco de dignidade. Devo, necessito, fazer o impossível e até mesmo o condenável, mas mantendo firme meu amor próprio. Posso condenar alguém (neste caso um aluno), tenho moral para dar "lição de moral"? Bem, aqui fica evidente que a professora não pode condenar, sendo ela mesma passível de condenação. "Atire a primeira pedra, quem estiver livre do pecado!"
Destaque para a atuação simplesmente magnífica, ímpar e realista da atriz Margita Gosheva.