O médico erótico
por Francisco RussoÉ curiosa a presença de Alexandre Aja neste longa-metragem. Diretor afeito ao cinema de suspense/terror, como Espelhos do Medo e Amaldiçoado, ele soa um tanto quanto deslocado neste A Nona Vida de Louis Drax, em boa parte pela própria indefinição em torno da produção. Ora filme fantástico, ora de terror, ora psicanalítico e ora dramalhão conjugal, o longa-metragem transita entre todos estes gêneros - ou subgêneros - sem ao certo se definir sobre qual rumo tomar. E isto, de certa forma, é um de seus maiores problemas.
Centrado no garoto do título, A Nona Vida... inicia justamente com o acidente que o coloca à beira da morte. Uma ambientação fantasiosa, semelhante ao estilo do diretor Jean-Pierre Jeunet (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) mas sem o mesmo requinte visual, logo insere o espectador em um universo curioso e um tanto quanto sombrio, devido aos vários acidentes sofridos por Louis Drax ao longo de sua breve vida. Apesar da gravidade retratada, é justamente este tom fantástico que ameniza o exibido, auxiliado ainda pelos diálogos espirituosos/sabichões do personagem e o carisma de seu intérprete, o pouco conhecido Aiden Longworth.
Por mais que tal início seja atraente, quase um convite a um universo que mescle a dureza da realidade com a imaginação de uma criança, ele dura pouco. O roteiro rapidamente salta para o hospital, onde ascende a subtrama envolvendo a mãe do garoto (a bela e apática Sarah Gadon) e o médico Allan Pascal (o sempre inexpressivo Jamie Dornan). A partir de então o universo de fantasia é praticamente abandonado, dando espaço a um romance insípido entre dois personagens pífios e sem o menor apelo. Diálogos dúbios ganham espaço, potencializados pela fama de Dornan como Christian Grey em Cinquenta Tons de Cinza: "Estava caçando algo para comer", ele diz, para logo em seguida soltar seu olhar 43 rumo a Sarah Gadon. Mais cretino (e desconexo com o tom do filme), impossível!
É ao rumar em direção ao suspense psicanalítico que pode-se perceber o porquê da contratação de Aja, especialmente na súbita aparição de um ser monstruoso - cuja caracterização é bem questionável pelo aspecto técnico, é bom ressaltar. Por mais que A Nona Vida de Louis Drax ainda ganhe algum frescor a partir da relação do garoto com o psicólogo interpretado por Oliver Platt, trazida à tona através de flashbacks, ainda assim o filme caminha para um misto de romance e mistério que jamais convence de fato, seja pela má qualidade do elenco ou por sequências constrangedoras, como a do banho no hospital e mesmo a forma como a verdade vem à tona, no desfecho do longa-metragem.
Por mais que até traga alguns elementos interessantes, especialmente o relacionamento entre Louis Drax e seus pais, A Nova Vida... é tão mal desenvolvido que seus poucos méritos se perdem. Piegas, com diálogos horrorosos e um casal principal sem a menor química, o longa busca algum respiro na tentativa de criar suspense a partir de uma reviravolta final mas, ainda assim, não demonstra fôlego para suplantar tudo de ruim exibido até então.
Filme visto durante a cobertura do Festival do Rio, em outubro de 2016.