Dirigido pelo calouro Dan Trachtenberg e produzido por J.J. Abrams, Rua Cloverfield, 10 chega de maneira sorrateira, mas surpreende em seu desenrolar.
O longa narra a história de Michelle — protagonizada pela bela e talentosa Mary Elizabeth —, uma jovem que, ao sofrer um acidente de carro, acorda no porão de um estranho: Howard Stambler (John Goodman) que diz que o país sofreu um ataque nuclear — o qual provavelmente teve poucos sobreviventes —, que estão num bunker militar e que não poderão sair por tempo indeterminado pelo fato do ar lá fora estar contaminado. A história se desenrola a partir daí, com a desconfiança impregnando a trama, enquanto Michelle tenta descobrir a verdade ao lado Emmett (John Gallagher) um outro sobrevivente que Howard acolheu em seu bunker.
Como aspectos negativos, a trama — que mesmo com um baixo orçamento conseguiu fazer milagres —, apresenta uma conduta inicial que pode incomodar. Durante os dez primeiros minutos de filme, antes de Michelle se ver no bunker, a história toda é narrada com uma trilha sonora no fundo incessante, que não tem calma e por passar do limite se torna descombinada. Porém, depois das cenas fora do bunker acabarem, a trilha cessa e é conduzida na maneira certa, nos momentos certos. Também poderia ser considerado ponto negativo os momenos em que a trama para para dar atenção aos diálogos de Emmett e Michelle, os quais ambos discutem sobre arrependimentos, não acrescentando nada à trama e sendo abordado, talvez, de maneira deslocada. Outro aspecto negativo, talvez, seja o final da produção. Não pelo final em si, mas sim pela maneira pela qual foi executada; o final do filme só se deve, claro, para fazer ponta à Cloverfield - Monstro. Contudo, se não acabasse assim, terminaria da forma mais previsível possível.
Partindo de aspectos positivos, o longa tira nota dez. A trama toda é contada a partir do ponto de vista de Michelle, e somente dela, de modo que fiquemos preocupados com o personagem de Gallagher, Emmett, por Michelle confiar nele, e desconfiados do personagem de Goodman, Howard, já que ele oscila bastante entre mau e bonzinho na medida certa e isso faz com que Michelle não o enxergue com bons olhos. E, sendo assim, já que a história toda é dependente do ponto de vista de Michelle, também sentimos o que ela sente acerca do que acontece: só há como duvidar, se o que Howard diz é verdade ou não, não há como ter certeza, a não ser que ela mesma descubra.
Por usar pouco cenário e tendo como principal o bunker, o filme também acerta, fazendo-nos sentir familiarizados aos poucos com o lugar, mas ao mesmo tempo desconfiados. E é isso que o longa faz: ele reconforta ao mesmo tempo espectador e personagem, e, quando finalmente ambos estão relaxados, se sentindo "em casa" no bunker de Howard, o clímax estoura e o circo começa a pegar fogo.
O roteiro é excelente: não poderia ser melhor. A direção de Trachtenberg é bem amarrada, firme, pé no chão. Sua fotografia combina perfeitamente com o filme: dentro do bunker não se usa filtro e há bastante iluminação, deixando as cenas dentro do principal cenário clareadas; já fora, nos raros momentos em que temos tomadas lá e no terceiro ato, sempre é escuro — além do fator de sempre estar ao anoitecer —, tentando indicar, talvez, que só o bunker é seguro, apesar de toda a desconfiança que paira no ar.
Como atores, os três fazem os seus respectivos papéis perfeitamente. Gallagher faz o jovem Emmett na maneira certa, de melhor forma possível. Ponto alto para Goodman, que faz um personagem ótimo, com o qual amamos e odiamos ao mesmo tempo, um personagem bem desenvolvido e construído, que reflete exatamente o que a paranoia humana pode nos fazer. A linda e atraente Mary Elizabeth dá todo o seu talento, personalidade e independência à Michelle, com uma das suas últimas cenas à estilo McGyver.
O filme, na verdade, é um spin-off de Cloverfield - Monstro (2008), dirigido por Matt Reeves. Porém, o espectador só tem a ganhar se caso não viu o longa, pois se o viu e sabe que tem ligação com Cloverfield 10, o filme de Dan Trachtenberg não terá surpresa alguma. Vai ser praticamente uma spoilada na cara.
Vindo de surpresa, Rua Cloverfield, 10, supera seu antecessor, serve como bom entretenimento, acerta como um suspense, acerta como um filme; provavelmente boa parte não curtirá o final do longa, mas se analisá-lo direito, pode ver que não poderia acabar da melhor maneira possível.
Nota: 8/10