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    Nos Vemos no Paraíso
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Nos Vemos no Paraíso

    O artista e a guerra

    por Taiani Mendes

    Adaptação de premiado romance de Pierre Lemaitre, Nos Vemos no Paraíso se debruça sobre a amizade de Édouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart) e Albert Maillard (Albert Dupontel), colegas de trincheira na Primeira Guerra Mundial que sofrem nas mãos de um maléfico tenente (Laurent Lafitte), escapam da morte e refazem suas vidas praticamente do zero em Paris ao fim do conflito. Dupontel, também diretor e responsável pelo roteiro do drama francês, se vale de alto orçamento e inquietação criativa para pintar essa história em tintas fantásticas, buscando aliviar temas indigestos com arte e humor.

    Tecnicamente a superprodução é feita para impressionar desde as tomadas iniciais, quando se destaca extensa perseguição aérea a um cachorro estabelecendo o enorme campo de batalha. Os efeitos são críveis, os travellings intermináveis e as intensas movimentações de câmera impedem que a imersão na trama ocorra por completo. O investimento no estilo joga contra o drama e o apelo aos olhos acaba enfraquecendo o aspecto sentimental. A utilização da estrutura de filme mudo em flashback que retrata o passado de Édouard, porém, é um ponto alto do longa-metragem.

    O vilão não poderia ser mais pérfido, apresentado nas sombras, e o herói narrador é caracterizado pela boa vontade e certa inocência, cabendo ao transgressor Péricourt todas as ousadias e única personalidade nuançada. Defendido com o já conhecido talento do argentino Biscayart (120 Batimentos Por Minuto), aqui desafiado a colocar toda a força da interpretação no olhar, o jovem é revoltado e doce, arrogante e generoso, inconformado e criativo, amargurado e festeiro, mentor do grande ato para onde as forças dos protagonistas são direcionadas.

    Por vezes é confuso o objetivo do cineasta, que explora o velho embate pai burguês X filho artista, denuncia redes de corrupção, crueldade na guerra, tramoias aristocráticas, memoriais nulos, descaso com veteranos e vingança. O sentido puro e simples é deixado de lado, afinal a ideia é suspensão de descrença e circulação no limiar entre sonho e realidade, o que revela-se um complicador particularmente no momento da explicação do golpe que é a alma da trama – e que a leva ao seu descarrilamento, pois é quando sobressaem as manipulações não tão bem amarradas do realizador e seu descaso com os coadjuvantes.

    Comédia a partir de consequências da guerra ou drama social e pós-traumático bem-humorado, Nos Vemos no Paraíso tem o ar insano e esfumaçado dos loucos anos 20 e resta ao espectador ir invadindo os cenários com a câmera e antecipando os eventos nas significativas mudanças de máscara de Édouard, o incompreendido pássaro raro.

    O final deixa claro que a narrativa não tinha necessidade de ir tão longe e explicita o interesse na apresentação da fábula da justiça tardia e paz para o bem-intencionado acima de qualquer coisa. Àqueles que se seguram na arte a mensagem não é otimista. O destaque vem dela, mas só a dor compartilhada e o dinheiro salvam, mensagem condizente com o visual luxuoso e nada inovador que sustenta o filme.

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