Não curti
por Lucas SalgadoPara começo de conversa, cabe aqui um aviso: Amizade Desfeita chega aos cinemas brasileiros apenas com cópias dubladas. Para quem não sabe, o filme se passa todo na tela de um computador. Neste sentido, o trabalho feito pela distribuidora nacional, a Universal, é excelente ao adaptar a tela do computador e os aplicativos/programas usados para o português.
A decisão pela dublagem em 100% das cópias, no entanto, é infeliz, afinal prejudica claramente o áudio da produção e o impacto em boa parte das cenas de suspense e terror. A dublagem, além de representar um rompimento com o trabalho do ator original, também prejudica a ambientação e a banda sonora da produção, tornando o áudio muito limpo e pouco natural.
Falando especificamente do longa, Amizade Desfeita conta com um formato interessante, que já tinha feito sucesso no curta Noah (2013). O diretor Levan Gabriadze consegue criar uma narrativa e ocupar sua tela por 83 minutos, o que por si só é um mérito da produção. Para isso, inseriu uma série de sites e programas usados por internautas nos dias de hoje, o que torna tudo muito familiar e curioso. Spotify, Facebook, Skype, iTunes... Está tudo lá de forma coesa e bem desenvolvida.
Após ter um vídeo constrangedor postado na internet, Laura decide se matar. A situação choca todos seus colegas de escola, mesmo aqueles que não gostavam muito dela. Um ano após o suicídio, um grupo de seis amigos conversam pelo Skype quando percebem a presença de uma sétima pessoa na videoconferência. E pior, alguns dos jovens começam a receber mensagens do perfil de Laura no Facebook. Aos poucos, a sétima pessoa começa a se revelar e exige fazer um jogo com os outros seis que pode ter consequências perigosas.
A premissa é interessante, debatendo inclusive a questão do bullying virtual e a forma como jovens se comportam nas redes. Infelizmente, toda a trama de terror acaba jogando contra. Vemos uma sucessão de cenas impactantes, mas a onipresença da ameaça acaba tornando-a menos interessante. Até ficamos curiosos para saber o que vai acontecer no final, mas quando tudo chega ao fim, não há nada de muito revelador.
Os atores em cena formam o tradicional grupo de jovens em filmes de terror. Tem a garota legal e mais puritana, a popular, a sexy, o cara cheio de si, o babaca, o gordinho nerd e por aí vai. As mortes ocorrem de forme, e na ordem, previsível. Não há desenvolvimento dos personagens e o elenco pouco chama atenção, seja pelo lado positivo, seja pelo negativo. Lembrando que a análise da interpretação fica prejudicada pela opção da dublagem.
Conceitualmente interessante, Unfriended (no original) não vai ficar marcado no mundo dos terrores adolescentes. Pode entreter em algum momento, mas tem tudo para ser esquecido rapidamente. Como um post no Facebook.