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    Somente o Mar Sabe
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Somente o Mar Sabe

    O problema da expectativa

    por Taiani Mendes

    Há 50 anos o jornal britânico Sunday Times patrocinou uma arriscada competição náutica. Chamada Sunday Times Golden Globe Race, a disputa tinha como objetivo laurear o primeiro homem a dar a volta ao mundo sozinho, navegando sem paradas. Nove pessoas zarparam e as histórias dos cinco que mais tempo permaneceram no mar são todas dignas de filmes, completamente diferentes uma da outra. James Marsh, diretor vencedor do Oscar por O Equilibrista, narra aqui a de Donald Crowhurst, segundo mais citado da “turma”, de acordo com o Google.

    Colin Firth interpreta Donald, e seu típico sorriso amarelo de quem tenta esconder enorme desconforto cai como uma luva no personagem, apresentado como um sonhador com baixa autoestima. Guiado por frases motivacionais - que sobram no roteiro, deixando o começo do filme bastante piegas -, um inicialmente empolgado Donald decide se lançar ao mar num trimarã mesmo sendo apenas um “navegador de fim de semana”. A decisão obviamente preocupa os filhos e a mulher de Donald, Clare (Rachel Weisz), e acaba afetando-os diretamente, pois o empresário modesto hipoteca em segredo a residência da família para construir sua embarcação.

    Somente o Mar Sabe revela-se uma experiência bem desconfortável para o espectador, que é afetado pela opressão que acachapa o protagonista ainda em terra e provocado pela proposta de direção de fazer da viagem um inferno alagado e sacolejante. Entristece e enjoa, mas não chega além disso, o que é decepcionante considerando os fatos reais e os envolvidos na adaptação.

    Em seu trabalho anterior, A Teoria de Tudo, James Marsh escapou do padrão cinebiográfico dedicando-se ao casal Hawking, ao invés de só se importar com Stephen. Desta vez ele (filmando limitado roteiro de Scott Z. Burns) não repete a boa iniciativa e Weisz é relegada ao lamentável papel de esposa em estado de espera. Após despedida fria ela aguarda em casa, enquanto o marido sofre no mar sem que sua derrocada psicológica seja narrada com propriedade. Unindo os dois, memórias, cenas fora da ordem cronológica.

    “O que a água salgada faz com a cabeça das pessoas?”, questionamento pertinente feito por Clare, infelizmente fica apenas nas palavras, pois a trama repleta de lacunas toma o caminho batido de apontar um vilão e jogar praticamente toda a responsabilidade nele e no que representa. Contagiado por características do personagem principal, o longa parece dissimulado e eventualmente até covarde, além de acanhado.

    Uma das primeiras cenas prega peça no público numa referência à falsidade que virá a seguir e por fim Somente o Mar Sabe inteiro soa como uma fracassada farsa, fadada desde o início a não convencer - e pouco se esforçando para tal.

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