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    Como Eu Era Antes de Você
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Como Eu Era Antes de Você

    Receita bem conduzida

    por Francisco Russo

    Nada se cria, tudo se copia - ou ao menos se transforma! A velha máxima pode ser aplicada também ao sucesso maior da autora Jojo Moyes, Como Eu Era Antes de Você, que agora ganha versão cinematográfica. Longe de inventar a roda, a escritora teve como grande mérito a capacidade de reaproveitar temas e situações até batidas, em uma roupagem contemporânea e com personagens cativantes. Assim é o livro e assim também é o filme, claro que sem a mesma profundidade e riqueza de detalhes do material original. É muito raro um filme conseguir superar um livro nestes quesitos.

    Ainda assim, é importante ressaltar que o roteiro de Como Eu Era Antes de Você, o filme, foi escrito pela própria Jojo Moyes. Ou seja, todas as restrições e simplificações feitas, seja de situações, personagens ou até emoções, vieram da própria criadora de tais personagens - o que traz ao filme um certo habeas corpus em relação às reclamações neste sentido. Se não justifica tais decisões, ao menos ameniza.

    Como dito, há pouco de original em Como Eu Era Antes de Você. As dificuldades enfrentadas por um tetraplégico têm sido abordadas no cinema há tempos, do excelente (e citado pelo filme) Meu Pé Esquerdo ao recente A Teoria de Tudo, assim como o relacionamento amoroso entre uma cuidadora e seu paciente tem no tristíssimo Tudo Por Amor seu exemplo maior. Mesmo o interesse de Will em transformar a jovem Louisa Clark bebe da fonte de Pigmaleão, cuja origem vem da mitologia grega. Em meio a tantas referências, a história se sustenta muito graças à humanidade vinda de sua principal personagem feminina. Que, paradoxalmente, tem em Emilia Clarke um grande revés.

    Sem grandes atributos, Louisa é uma jovem absolutamente normal. Não é brilhante nem de uma beleza estonteante, enfrenta problemas financeiros e leva a vida com um comodismo que não a incomoda nem um pouco. Um tanto quanto cafona, gosta de se vestir com roupas antiquadas e está sempre com um sorriso no rosto, tentando alegrar quem está à sua volta. É por esta característica que acaba sendo contratada para cuidar de Will, preso à cadeira de rodas após sofrer um sério acidente, anos atrás. O contraste entre o cinismo dele com a alegria dela é explícito, rendendo boas situações pontuadas por diálogos sarcásticos. É daí também que surge o lado mentor, já que o convívio (e a insistência) diário não apenas os aproxima, como faz com que Will resolva apresentar a Louisa um mundo até então desconhecido.

    Por mais que Louisa seja uma personagem divertida e cativante, Emilia Clarke optou por interpretá-la exagerando nas emoções. Seu lado careteiro, reforçado pela expressividade das sobrancelhas, faz com que a personagem sempre aparente estar fora do tom em relação às pessoas à sua volta, causando uma certa estranheza - ao menos até que se acostume com tal proposta. Já Sam Claflin, intérprete de Will, foi uma escolha certeira. Apesar de ser um papel bastante limitado pelo lado físico, seu perfil de galã ajuda bastante na transformação vista em cena.

    Se o relacionamento entre Louisa e Will é o que sustenta o longa-metragem, com direito a duas ótimas cenas envolvendo o preconceito a filmes legendados, Como Eu Era Antes de Você ainda revela um lado bastante maniqueísta envolvendo o namorado de Louisa, Patrick (Matthew Lewis, o Neville Longbottom da série Harry Potter), intencionalmente apresentado como uma pessoa egoísta que não dá a devida atenção a ela - o que facilita bastante o caminho seguido pela história, é claro! O filme ainda insinua a abordagem de questões religiosas decorrentes do desfecho a partir da família de Louisa, cujo pai e mãe usam crucifixos bem explícitos, mas isto jamais acontece.

    No fim das contas, Como Eu Era Antes de Você nada mais é do que uma receita de bolo bem conduzida, investindo forte em bons sentimentos e na humanidade como motivações para seguir em frente. Por mais que traga um desfecho bastante contestável pelo que representa - saiba mais aqui - , ainda assim funciona dentro deste arquétipo construído de mesclar Pigmaleão com uma história de amor "inusitada", de forma a desenvolver um casal carismático repleto de contradições. E, para quem se interessa em saber mais sobre o desfecho apresentado, fica como sugestão o excelente e bem mais aprofundado Mar Adentro.

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