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    Noites Brancas no Píer
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Noites Brancas no Píer

    Hermético

    por Renato Hermsdorff

    Baseado no conto "Noites Brancas", do escritor russo Fiódor Dostoiévski, Noites Brancas no Píer, dirigido pelo veterano cineasta francês Paul Vecchiali, conta a história do encontro de um homem e uma mulher que conversam. Conversam e conversam.

    Fédor (Pascal Cervo) – e o nome do personagem, chamado apenas “o Sonhador” na obra original, é uma homenagem ao autor – é um professor do tipo loser, desacreditado e inábil com as mulheres. Experimentando um período sabático, ele encontra Natacha (Astrid Adverbe), enquanto ela espera notícias do amado que sumiu, no tal píer do título. Ao longo de quatro noite, ambos... conversam – basicamente sobre o vazio de suas vidas. Até que o nosso herói às avessas cai na tentação de fazer a única coisa que ela o pede para não fazer, lá no primeiro contato: se apaixonar por ela.

    O filme segue a linha existencialista que consagrou o romancista. Tudo que Fédor e Natacha fazem ao longo de cerca de uma hora e meia de projeção é conversar (sim, estamos sublinhando essa informação), o que não é necessariamente um demérito, haja visto a bem sucedida falação de Antes do Amanhecer/ Pôr-do-Sol/ Meia-noite, emoldurada por belos e variados cenários.

    Porém, relegando a ação dramática a segundo (terceiro, quarto?) plano, Vecchiali investe, sobretudo, na luz, para dar conta de justificar a adaptação dessa história para as telas. Simplistas, passadas – em sua maioria – à noite, fazendo uso de planos estáticos, localizados em poucos cenários, as cenas trazem os atores se revezando no spot do farol que ilumina o píer.

    O efeito é bonito, mas, por si só, não se sustenta como a principal linguagem cinematográfica – os atores poderiam, facilmente, estar em um palco de teatro, por exemplo (e não foram poucas as adaptações do texto, consagrado como literatura, para o formato).

    Na concepção, a dupla Fédor-Natacha tem potencial para despertar alguma empatia do público: (não) são pessoas comuns, em última análise, porque não têm pudor em admitir seus fracassos. Mas o caráter hermético das conversas (sem o charme da trilogia de Richard Linklater), confere ao longa um pretensioso ar intelectual (e, em uma das cenas, ela faz uma dança que beira o constrangedor, para novo amigo).

    No fim, depois de tanta conversa que parece não levar a lugar algum, Noites Brancas no Píer, enfim, caminha para um desfecho dramatúrgico de fato. Um fim (de filme) que justifica o (ou pelo menos, melhora a experiência do) meio.

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