Mais uma casa mal-assombrada
por Bruno CarmeloO problema de muitos filmes de terror contemporâneos é o fato de se passarem num mundo onde filmes de terror não existem. Qualquer pessoa que já tenha assistido a histórias macabras saberia desde o princípio que a casa de O Quarto dos Esquecidos é uma grande cilada. As portas e o piso de madeira rangem quando se anda, os ambientes estão sempre escuros, os antigos proprietários possuem um passado macabro, corvos emitem sons sinistros lá fora, as luzes se acendem e apagam sozinhas. Ou seja, todos os clichês possíveis da casa mal-assombrada.
Mesmo assim, o casal Dana (Kate Beckinsale) e David (Mel Raido) chega à nova casa com um sorriso no rosto. Isto ocorre debaixo de chuva, no local isolado em plena floresta, e com a intenção de superar um trauma pessoal, porque aparentemente a história ainda não tinha clichês suficientes. “Um novo começo!”, exclamam felizes. Ao espectador, cabe apenas esperar que venham os sustos garantidos e as revelações sobre o passado da casa – que estão todos lá, na hora que se espera, com o mesmo teor visto mil vezes antes.
O Quarto dos Esquecidos constitui um projeto tão genérico que soa oportunista, preguiçoso. É uma pena que ele saia das mãos do ator e roteirista Wentworth Miller, que construiu o ótimo Segredos de Sangue em sua primeira experiência com roteiros. Desta vez, o texto se limita à psicologia barata e à simbologia mais evidente, reforçadas pelas escolhas estéticas óbvias do diretor D.J. Caruso. Juntos, os dois trabalham de modo a antecipar cada susto: basta Dana começar a andar pelo quarto para o chão ranger, a chuva cair e a trilha sonora sinistra se acentuar. Quando o elemento assustador enfim aparece, o espectador já o previa há muito tempo.
É uma pena que o acabamento seja tão fraco, pois algumas ideias do roteiro poderiam ser bem desenvolvidas. O próprio quarto do título é usado para um fim pouco assustador visualmente, mas assombroso em sua função histórica e política, que o liga às práticas nazistas. O fato de o pai ser um “homem do lar” enquanto a esposa arquiteta garante o sustento da família também poderia gerar um interessante subtexto sobre novas configurações sociais. Mas estes níveis de leitura estão ausentes do roteiro, e da montagem final.
O maior trunfo do filme é Kate Beckinsale, atriz mal aproveitada pelo cinema recente, mas com talento para diálogos e cenas dramáticas. Rumo ao final, ela consegue a proeza de conferir força a uma reviravolta absurda de sua personagem. Infelizmente, ela contracena com o pouco conhecido Mel Raido, se esforçando para ganhar o troféu Framboesa de Ouro de pior ator do ano. O Quarto dos Esquecidos constitui um desperdício de talentos e de uma premissa que poderia ser realmente sombria, caso mergulhasse no lado humano por trás do cômodo escondido.