“A Despedida”, de Marcelo Galvão (2015) é uma homenagem inspirada na vida de seu avô, Renato Oliveira Galvão, almirante aposentado de 92 anos. Foi o penúltimo trabalho para cinema do fenomenal ator Nelson Xavier, que faleceu dois anos depois em sua cidade natal, Uberlândia, Minas Gerais, aos 75 anos, em 2017. Nelson Xavier vive o “Almirante”, debilitado pela idade avançada, 90 anos e pressentindo seu fim. Levanta-se com dificuldade, toma um banho, veste-se meticulosamente com a lentidão da decrepitude e sai de casa com sua precariedade de movimentos para despedir do seu desafeto, do neto e da vida. Com pausas para experimentar o novo, como a antológica cena da maconha com os três jovens ‘rappers’. O filme é lento propositalmente, como os movimentos do protagonista dentro de seu dia repleto e atípico, que termina no encontro com sua amante Morena (Juliana Paes). Obra cinematográfica pouco vista, belíssima, emocionante, reflexiva, profundamente humana, irretocável retrato da velhice. Monumentos do nosso cinema nacional, Nelson Xavier e A Despedida, mereceriam concorrer ao Oscar de Melhor Ator e Filme Estrangeiro. Kikitos de direção, melhor ator (Nelson) e atriz (Juliana) no Festival de Gramado, merecidamente.