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    A História da Eternidade
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    A História da Eternidade

    Tempestade de emoções

    por Lucas Salgado

    Tempestade de emoções poderia muito bem ser o título de uma novela do SBT ou de uma música interpretada por Emílio Santiago ou Ângela Rô Rô, mas na verdade é o título desta crítica. É aquilo que se pode retirar de A História da Eternidade.

    Isso se deve não só pelo fato do filme fazer chover no sertão, mas principalmente pelo desenvolvimento da narrativa e pela força emotiva que demonstra ao longo da história. O diretor Camilo Cavalcante realizou um trabalho ousado e belíssimo ao retratar a rotina de uma vila esquecida pelo mundo no nordeste brasileiro.

    O filme é um exemplo claro, e nada comum, de trama emotiva que não é prejudicada pelo rigor estético, que é a marca da produção. A direção de fotografia de Beto Martins é deslumbrante e ajudada por um cenário visualmente impressionante. Não há de se falar em uso estético da miséria, pois o que temos aqui não é a beleza natural ou ambiental. Temos uma beleza cinematográfica, da tomada perfeita, das alegorias visuais.

    A História da Eternidade já diz para o que veio em sua primeira cena. A câmera parada em um cenário seco e quente pega a passagem de um cortejo fúnebre de uma criança. Na sequência, somos apresentados a personagens clássicos do sertão: a menina que sonha em conhecer o mar, o pai durão, a senhora que cuida da vida de todos, o deficiente que é meio que repelido pela população, o artista e por aí vai.

    As veteranas Marcelia Cartaxo e Zezita Matos, e a jovem Débora Ingrid são responsáveis por interpretar as três figuras centrais da trama. Cartaxo é Querência, a mãe da criança que acaba de ser enterrada, que convive com o luto e com o assédio do sanfoneiro cego do vilarejo. Matos vive Das Dores, a senhora mais velha do local, que recebe a inesperada visita do neto vindo de São Paulo. Por sua vez, Débora interpreta Alfonsina, uma garota de 15 anos que sonha em deixar o sertão e conhecer o mar. Ela cuida da casa, tendo que servir o pai e os irmãos. Ao mesmo tempo, conhece o mundo através das histórias do tio Joãozinho (Irandhir Santos), um artista epilético que vive de favor com o irmão e que claramente não pertence àquele ambiente.

    Irandhir Santos está longe de ser o protagonista do filme, mas sua atuação é tão marcante que acaba sendo o que mais chama atenção. Ele protagoniza uma das cenas mais belas vistas nos últimos anos no cinema nacional. Diferente de todas as pessoas no local, Joãozinho, de calça estampada e maquiagem, deixa a casa com uma vitrola. Então, coloca um disco para tocar, no que podemos ouvir "Fala" na voz de Ney Matogrosso. Ele dubla a canção ao mesmo tempo que temos a câmera girando. Muito lindo.

    Atuações marcantes, trilha excepcional, direção precisa... O longa é uma experiência marcante pelo espectador. É poesia em cena.

    Filme assistido durante a cobertura do 21º Festival de Vitória, em setembro de 2014.

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